No meu copo 220 - Reservas Sogrape: o adeus

Douro 2001; Dão 2000; Alentejo 2001; Alentejo 2000


 

Foram cerca de 15 anos e quase 30 colheitas diferentes provadas entre 4 regiões: Douro, Dão, Bairrada e Alentejo (talvez não por acaso, um dos vinhos da Sogrape que nos encantou e que referimos mais de uma vez chamava-se precisamente Quatro Regiões). Foi um caso de amor à primeira vista e de paixão duradoura e correspondida, daquelas “até que a morte nos separe”. Neste caso, a separação foi decidida pelo produtor ao decretar a morte destes vinhos.

Ao longo dos 3 anos que este blog hoje completa (e por isso agendámos a publicação deste post para esta data, por uma questão de simbolismo), os vinhos da Sogrape, e estes Reservas em particular, foram os que tiveram direito a mais posts publicados. A nossa paixão pelos vinhos da Sogrape começou precisamente pela descoberta destes Reservas, já referida nos posts com os números 99 e 100.

Desde o Dão 1985 e o Douro 1987, procurámos sempre ir acompanhando com regularidade as colheitas lançadas, e daí partimos para o alargamento dos nossos conhecimentos sobre os vinhos da empresa. Quando comecei a constituir uma garrafeira em casa, o Douro Reserva e o Dão Reserva sempre estiveram presentes. Pelo meio foram aparecendo, de forma mais esparsa, alguns Reservas da Bairrada e já no dealbar do século XXI apareceram os Reservas do Alentejo, após o começo da produção de vinho na Herdade do Peso.

Com a diversificação da gama de vinhos nas várias regiões, a empresa decidiu acabar com estes Reservas, um fim que vi anunciado pela primeira vez num dos guias de João Paulo Martins. A princípio custou-me a acreditar mas depois confirmou-se numa das provas de vinhos Sogrape realizadas na Wine O’Clock. Os Reservas do Douro vão ficar sob a alçada da Casa Ferreirinha, sendo o Vinha Grande o seu sucessor natural (embora, insisto, o ache inferior), os Reservas do Dão são substituídos pela gama da Quinta dos Carvalhais e os Reservas do Alentejo ficam naturalmente integrados na nova linha da Herdade do Peso. Os Reservas da Bairrada sempre foram mais escassos e actualmente a empresa apenas investe na marca Terra Franca e ainda há um garrafeira por aí.

É claro que esta nova gama, bastante alargada, teoricamente substitui com vantagem cada um dos vinhos referidos. No entanto, daqueles que já tive oportunidade de provar, nenhum tem o mesmo perfil dos Reservas. São novos e são mais, mas são diferentes, por isso vou sentir a falta daqueles.

Estando o nosso stock a chegar ao fim, os Comensais Dionisíacos reuniram-se à mesa a pretexto de um Benfica-Sporting para degustar os últimos exemplares do Douro Reserva 2001, Dão Reserva 2000 e Alentejo Reserva 2001.

Já aqui falámos do Douro 2001 e do Dão 2000 noutros posts. Mantiveram aquilo que se esperava e, na minha opinião (que não foi unânime), o Douro Reserva continuou a mostrar-se o melhor, com um bouquet profundo e exuberante a fruto maduro, grande elegância e boa estrutura na prova de boca.

O Dão Reserva continua com um perfil um pouco menos polido mas mesmo assim bastante redondo e adequado para pratos de carne requintados mas com alguma pujança.

Finalmente o Alentejo Reserva, com duas colheitas algo diferentes. O 2001 com bom corpo mas com o aroma algo discreto, talvez a colheita menos conseguida das que provámos. Esquecida estava a última garrafa da colheita de 2000, já provada noutra ocasião, que confirmou a prova anterior: uma grande estrutura e aromas exuberantes, um vinho com tudo no sítio. A primeira vez que provei um destes Reservas, no fim-de-ano de 2003, foram duas garrafas de 1999 e a primeira sensação foi precisamente essa: um vinho com tudo no sítio certo. Pena que tenha tido uma vida tão curta.

Em comum entre estes vinhos está o facto de todos terem um estágio de um ano em madeira seguido de mais algum tempo em garrafa, no mínimo 6 meses. Daí resulta saírem para o mercado já com alguns anos de existência e com os aromas bem casados. Não nos vamos repetir nas apreciações feitas anteriormente, pelo que quem quiser ler mais considerandos pode encontrá-los nos posts indicados:

- Douro Sogrape Reserva 2001
- Douro Sogrape Reserva 2000
- Dão Sogrape Reserva 2000
- Dão Sogrape Reserva 1999
- Bairrada Sogrape Garrafeira 1999
- Alentejo Sogrape Reserva 2000
- Quatro Regiões 1997 (1) e (2)

Para perpetuar a memória, guardei uma garrafa do último Dão Reserva e do último Alentejo Reserva, como recordação do rótulo algo sui generis. E para contrariar o destino, ainda me deparei com umas garrafas do Douro Reserva 2002 no Jumbo e na Makro (deve ser mesmo a última colheita à venda), e tratei de abastecer a garrafeira antes que acabem. Assim ainda posso prolongar o prazer por mais algum tempo, bebendo-as com parcimónia e com a companhia adequada. E entretanto encontrei um restaurante com uns restos de colecção, mas não vou dizer qual é. Pode ser que ainda consiga ir lá gastá-las...

Kroniketas, enófilo saudoso

Produtor: Sogrape Vinhos

Vinho: Douro Sogrape Reserva 2001 (T)
Região: Douro
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Último preço: 10,74 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Dão Sogrape Reserva 2000 (T)
Região: Dão
Grau alcoólico: 12,5%
Último preço: 9,89 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Alentejo Sogrape Reserva 2001 (T)
Região: Alentejo (Vidigueira)
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Aragonês, Alfrocheiro
Último preço: 11,16 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Alentejo Sogrape Reserva 2000 (T)
Região: Alentejo (Vidigueira)
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Alfrocheiro
Último preço: 8,19 €
Nota (0 a 10): 8,5

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