Na minha mesa 226 - O Chico (São Manços)



Uma saída em família até ao interior alentejano levou-me a revisitar um restaurante que descobri, quase por acaso, ao consultar o guia de restaurantes da Visão, que coleccionei há uns anos. Em trânsito pelas proximidades de Évora, olhando para os restaurantes da zona vimos um em São Manços, localidade situada junto ao IP2 em direcção ao sul. Lá fomos à procura do Chico.

Em São Manços quase que se entra por uma rua a sai-se por outra. E o Chico parece um simples café de aldeia, sem nada de especial que nos faça pensar em ir lá procurar algo de especial. A verdade é que, para além dum pequeno balcão à entrada e duma pequena sala com capacidade para não mais de 30 lugares, não se descobre o que nos espera antes de nos sentarmos à mesa.

Primeiro deparamo-nos com várias prateleiras onde estão expostas dezenas de vinhos alentejanos de todos os tipos. Pode-se percorrer as garrafas à procura de qualquer marca e quase que é difícil lembrarmo-nos de uma que não esteja lá. Enquanto esperamos pela refeição podemo-nos ir entretendo com umas excelentes empadas de carne, ainda quentinhas, que saem a grande ritmo para as mesas de todos os clientes. Mas a melhor parte vem quando se pega na ementa para passar aos pratos de resistência. Os pratos típicos alentejanos dominam, com destaque para a caça na época apropriada. Nas vezes que lá fui tive a felicidade de ser essa época e desta vez assim voltou a acontecer. À minha espera estava um delicioso arroz de lebre malandrinho, servido com uma concha em terrina de sopa, muito bem temperado e com um toque de hortelã a completar o panorama. É de comer até à última peça e até ao último bago de arroz. Para os apreciadores de caça, um verdadeiro maná!

Depois de já termos o estômago e o palato regalados com uma tal refeição, ainda arranjamos espaço para provar as deliciosas sobremesas. A escolha recaiu numa encharcada e numa sericaia com ameixa de Elvas. A encharcada estava esplêndida, com a consistência certa e com calda na quantidade adequada, enquanto a sericaia estava um pouco maçuda.

Como só eu é que ia beber álcool tive de me socorrer de meia-garrafa de vinho. Escolhi um vinho da zona, o EA tinto, da Fundação Eugénio de Almeida, que já não provava há alguns anos. E francamente decepcionou-me. Achei-o desequilibrado, delgado e pouco aromático, demasiado ácido na boca, muito longe do padrão que esperava. Posso ter tido azar mas se é este o perfil actual deste vinho, mais vale esquecê-lo. De tal forma que achei que nem valia a pena mencioná-lo no título deste post.

Em suma, este Chico é um local a revisitar sempre que a oportunidade se proporcione, principalmente em tempo de caça. Quem passar pelos lados de Évora ou pelo IP2, vale a pena marcar mesa e fazer um pequeno desvio por São Manços para se deliciar com uma bela refeição. O preço é moderado (pagámos 45 € por uma refeição para dois adultos, um adolescente e uma criança), o serviço simpático e acolhedor, quase familiar, num ambiente descontraído e informal à boa maneira alentejana, onde nos sentimos como em casa. 

Kroniketas, gastrónomo viajante

Restaurante: O Chico
Rua do Sol, 44-C
7005-739 São Manços
Tel: 266.722.208
Preço médio por refeição: 20 €
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: EA (T)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida - Adega da Cartuxa
Grau alcoólico: 13%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Castelão, Alfrocheiro, Moreto
Preço em feira de vinhos: 4,87 €
Nota (0 a 10): 4

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