No meu copo 1000 - Barca Velha: finalmente o mito

Barca Velha 1995
Barca Velha 2008


Vídeo em https://youtu.be/e2zm_s4dpA4

O que se poderá dizer dum vinho que é o mais famoso, mais badalado, porventura mais cobiçado e mais desejado em Portugal?

O que estará ainda por dizer e que não tenha já sido dito?

Como classificar ou avaliar um vinho que ascendeu à categoria de mito?

Beber um Barca Velha não é apenas provar um vinho: é uma experiência para recordar, é um acontecimento que não está ao alcance da maioria e, muito menos, está ao alcance de quase todos com frequência.

Pela parte que me toca, esta foi a 4ª vez que me cruzei com este vinho, a primeira em que pude provar duas garrafas e também a primeira em que pude fazê-lo em casa. Tenho portanto no “currículo” quatro provas e cinco colheitas de Barca Velha.

Guardei estas duas garrafas, das colheitas de 1995 e 2008 (a penúltima a ser lançada no mercado) especialmente para uma efeméride muito especial, na perspectiva de que as probabilidades de repetir são mínimas, até porque as colheitas actuais estão a atingir valores pornográficos e, portanto, proibitivos.

Isto dito, não tento sequer classificar estas duas colheitas que tivemos oportunidade de provar. A expectativa é sempre altíssima, e como tal a probabilidade de não ser satisfeita também é, porque nos leva sempre a questionar se um vinho, qualquer que seja, vale 500, 600, 700 ou 800 euros... O produto seguramente não, mas o que está a ser pago não é o produto: é a marca, é o mito, é o prestígio. Tal como no valor dum Ferrari ou dum relógio Rolex.

Acresce que a expectativa criada condiciona a prova, em qualquer sentido: podemos ser levados a achar o vinho melhor do que é por causa da marca que ostenta, ou pelo contrário achar que, afinal, o mito não passa disso mesmo. Tentar o equilíbrio entre as duas posições será o ideal e o mais difícil, mas porventura a abordagem mais correcta. Por essa razão não me atrevo a atribuir uma classificação a estes dois vinhos.

O que importa aqui reter, sobretudo, é a tentativa de atingir a perfeição num vinho que nunca é colocado à venda com menos de oito anos após a data da colheita. Onde se tenta que tudo esteja em equilíbrio e na conta certa. Nada a mais nem nada a menos. Como se fosse a fórmula de Deus.

É essa memória que devemos reter, mais do que qualquer nota de prova que, neste caso, se torna irrelevante. E, se possível, ter saúde e dinheiro para que, quem sabe, talvez um dia a ocasião ainda se possa repetir.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Douro
Produtor: Casa Ferreirinha - Sogrape
Preço: superior a 500 €

Vinho: Barca Velha 1995 (T)
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca

Vinho: Barca Velha 2008 (T)
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Franca (50%), Touriga Nacional (30%), Tinta Roriz (10%), Tinto Cão (10%)

Comentários

15672 disse…
Ainda assim falta dizer se gostou ou não...
Krónikas Tugas disse…
É praticamente impossível não gostar.
Se vale a pena pagar tanto por uma garrafa de vinho, já é outra conversa.