No meu copo 817 - Coelheiros, Chardonnay 2016

As comparações são sempre odiosas, e muito frequentemente injustas. Por vezes tenta-se comparar o incomparável, mas nem sempre se pode evitar.

Nos posts mais recentes, estes de início de ano, viajámos por regiões emblemáticas doutros países e cruzámos essas provas com vinhos portugueses elaboradas com as mesmas castas. Provou-se um Sauvignon Blanc da Nova Zelândia que não agradou, ao contrário de um do Tejo. E provou-se um Chardonnay da Borgonha (excelente!), chegando agora um do Alentejo, duma marca que fez nome com este vinho. Falamos da Herdade de Coelheiros que teve, durante anos, a tradição de produzir um Chardonnay.

Por isto ou por aquilo, durante muito tempo andámos um pouco ao lado dos vinhos desta casa, que agora se reestruturou e reformulou o seu portefólio, tendo mesmo introduzido uma alteração radical nos rótulos (o que é pena, pois os tradicionais eram lindíssimos!). Nesta nova etapa foi apresentado um Chardonnay como sendo a última etapa do vinho nesta casa. Resolvi arriscar, apesar do preço ser um factor contra... Mas, dada a fama, lá avancei.

“Última e limitada edição de um vinho icónico que perdurará na história. Um 100% Chardonnay que mostra a expressão da casta no terroir alentejano. Final longo e muito elegante. Potencial de envelhecimento. Uma edição de garrafeira.” Foi este o texto apresentado na promoção deste vinho.

Vale a pena rever um pouco de história, que a seguir se transcreve com a devida vénia.

“A primeira referência histórica à Herdade de Coelheiros remonta a 1467 tendo sido oferecida como dote de casamento a Dom Ruy de Sousa e D. Branca de Vilhena. Dom Ruy foi uma figura de relevo na História de Portugal, conhecido como o principal “arquiteto” do Tratado de Tordesilhas. Nos séculos seguintes a propriedade foi adquirida por diferentes famílias, até que em 1863 foi comprada pela viúva Isadora Calhau, tornando-se na primeira proprietária a habitar e explorar a herdade, um espírito empreendedor raro entre as mulheres da época.

Em 1887 a propriedade é vendida ao Conde de Azarujinha. Neste período surgem os primeiros registos de vinhas na Herdade, embora estas não tenham perdurado. Em 1981 Joaquim e Leonilde Silveira compram a Herdade de Coelheiros e dão início a uma nova fase com a plantação da vinha e do pomar de nogueiras. As primeiras vinhas são plantadas com as castas Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Arinto, Roupeiro e Trincadeira. A opção por castas internacionais foi uma inovação para a época e permitiu produzir vinhos de perfil diferenciador.

Em 1991 é produzido o primeiro Tapada de Coelheiros tinto, sob a batuta do enólogo António Saramago. O rótulo era representativo da tradicional tapeçaria de Arraiolos, arte acarinhada e impulsionada por D. Leonilde Silveira que detinha uma oficina de artes e ofícios em Igrejinha.

Os vinhos de Coelheiros ganham reconhecimento nacional e internacional, entre os quais o Tapada de Coelheiros Garrafeira 1996, que marca a história da herdade ao receber vários prémios como melhor vinho do Alentejo e de Portugal.”

(Fonte: http://www.flashgourmet.pt/)

Sobre o vinho:
Estágio: 8 meses em barrica com bâtonnage
Potencial de envelhecimento: 5 a 10 anos

“O ano vitícola 2015-2016 foi caracterizado por um inverno ameno e primavera fresca que conduziram para uma maturação tardia e beneficiaram os aromas varietais. A precipitação total foi de 489 mm, e o mês mais chuvoso foi Maio. O Verão e o Outono foram secos, permitindo-nos aguardar pelo ponto ótimo de maturação. Esta combinação de fatores resultou em cachos pequenos e altamente concentrados.

As uvas foram colhidas manualmente para caixas de 25 kg e transportadas de imediato para a adega onde foram armazenadas na câmara de frio durante 24 h. Seguiu-se a seleção de uva e prensagem pneumática e decantação. A fermentação alcoólica iniciou-se em depósito de inox com leveduras selecionadas. Após a fermentação iniciar o mosto foi transferido para barricas de 500 L. O vinho foi mantido em contacto com borras finas.”

E o que encontrámos na garrafa? Pouco exuberante em termos de aroma. Encorpado e macio, mas pouco expressivo e com acidez discreta. Apresenta uma cor amarelo-palha carregado, quase a tender para o mel, que denota acentuada evolução. O final também é discreto em termos de persistência e profundidade.

Em resumo: mereceu o que custou? Claramente não! Era um vinho com alguma aura mítica, e foi isso que me levou a experimentá-lo. Mas no balanço, não justifica minimamente este patamar de preço, que é manifestamente exorbitante para aquilo que o vinho mostra. Por este preço teria de ser quase excepcional, e está muito longe disso.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Coelheiros, Chardonnay 2016 (B)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Herdade de Coelheiros
Grau alcoólico: 14%
Casta: Chardonnay
Preço: 45 €
Nota (0 a 10): 8


Foto da garrafa obtida no site do produtor

Comentários