No meu copo 494 - Bairrada: os clássicos rebeldes

Quinta das Bágeiras Reserva tinto 2010; Pato Rebel 2009; Campolargo, Baga 2010


Por uma curiosa coincidência, tivemos oportunidade de provar em ocasiões muito próximas três tintos da Bairrada provenientes de três produtores que funcionam “fora da caixa”, ou fora dos cânones que marcam a tradição da região. A descrição que se segue coincide apenas com a ordem da prova, e nada mais.

Comecemos então pelo tinto Reserva da Quinta das Bágeiras. Uma marca clássica da Bairrada de um produtor que foge aos cânones, e é desalinhado das tendências dominantes, de tal forma que nem sequer faz questão de ter o nome “Bairrada” nos rótulos dos seus vinhos. Nos anos mais recente, um vinho branco chumbado pela Comissão Vitivinícola tornou-se um caso raro de sucesso junto dos apreciadores (estamos a falar do Pai Abel Chumbado).

Este Quinta das Bágeiras Reserva 2010, fermentado em pequenos lagares, sem desengace, estagiou em tonel de madeira avinhada e foi engarrafado sem colagem ou filtragem. Foram adquiridas duas garrafas Março de 2013, portanto ainda relativamente novo. A primeira já tinha sido consumida e na altura o vinho mostrou-se algo rugoso e duro na prova.

Entretanto amaciou. Apresentou-se encorpado, persistente, com boa estrutura na boca e aroma vinoso intenso. Um vinho para carnes com algum requinte, um Bairrada com uma base clássica mas com alguns laivos de modernidade. Para quem não quer ou não pode chegar ao excelente (e bem mais dispendioso) Garrafeira, aqui está outro bom produto por um valor bem mais acessível, em que vale a pena apostar.

Em seguida, o Pato Rebel 2009, um tinto que estava à espreita para ser provado, mais uma inovação do enfant terrible da Bairrada, Luís Pato, o “Senhor Baga”. Sempre a inovar defendendo as raízes da região, e sempre com especial carinho pela Baga. Este é um Regional Beiras, mas quem se importa com isso?

Aqui nasceu um vinho também feito fora dos cânones: um Baga para beber com facilidade, jovem, para o Verão. Mostrou-se macio, aberto na cor, mas com o arejamento foi desenvolvendo aromas e mostrando uma pujança e estrutura que o caracterizam como muito mais do que um tinto de Verão. É um tinto que merece respeito.

Finalmente, o Campolargo Baga 2010. Outro produtor que, assentando raízes na Bairrada, também pouco liga às tradições. Pouco importa que as castas sejam clássicas ou modernas, nacionais ou estrangeiras, típicas ou atípicas: o que interessa é o resultado final. Aqui temos, por coincidência, um monocasta de Baga, que também se apresenta muito macio e pronto a beber.

Tal como é prática habitual em Luís Pato, este fermentou com desengace total das uvas. A fermentação terminou em balseiro e barricas, nas quais fez a fermentação maloláctica e onde permaneceu até Março de 2012. Outro Bairrada de respeito, a precisar de algum tempo para se mostrar em plenitude.

E assim se fez um pequeno percurso por produtores que defendem o melhor que se faz na região, cada um com o seu cunho muito próprio que permite perceber que, afinal, mesmo com a dominância da Baga, podem existir várias e diferentes “Bagas”...

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta das Bágeiras Reserva 2010 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Mário Sérgio Alves Nuno
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Baga, Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 8,59 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Pato Rebel 2009 (T)
Região: Regional Beiras
Produtor: Luís Pato
Grau alcoólico: 13%
Casta: Baga
Preço: 10,46 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Campolargo, Baga 2010 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Manuel dos Santos Campolargo
Grau alcoólico: 13%
Casta: Baga
Preço em feira de vinhos: 8,99 €
Nota (0 a 10): 8

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