No meu copo 316 - Tapada do Chaves: Reserva 2002; Vinhas Velhas Reserva 2002

Este é um clássico alentejano com grandes tradições, mas com o qual tenho tido uma relação dispersa e algo difícil. Provei o tinto Reserva pela primeira vez nos anos 90, impulsionado pelo nome e pela fama do vinho, primeiro com a colheita de 1994 e depois com a de 1996 (na altura custou cerca de 2000 $), e de nenhuma das vezes me encantou, sobretudo tendo em conta o preço. As impressões colhidas foram que não valia aquilo que custava.

Passaram alguns anos até que voltasse a arriscar, mais especificamente até ter estado a trabalhar em Portalegre e ter visitado a própria Tapada do Chaves (então já na posse das Caves Murganheira, depois da venda pela família Fino à SLN), e conhecido um pouco melhor a sua história, Voltou então a despertar o meu interesse pelos seus vinhos, o que me levou inclusivamente a provar o espumante ali produzido. Comprei novamente o Reserva, da colheita de 2002, que experimentei uma e outra vez. Posteriormente comprei também o Vinhas Velhas 2002, que conheci também nessa visita às instalações da casa, e mais recentemente comprei o Reserva 2005 e o Reserva 2009 (já com o novo e horrível rótulo).

Continuei com algumas reticências em relação ao resultado das provas efectuadas. Primeiro pareceu-me um vinho inicialmente muito fechado e depois algo cansado, com demasiada evolução. Não convencido, insisti e tentei ajudar com a decantação. Achei-lhe alguma falta de aroma, pouco exuberante.

Recentemente, juntamente com o tuguinho, resolvemos fazer uma prova comparada do Reserva 2002 e do Vinhas Velhas Reserva 2002, a acompanhar umas costeletas de novilho grelhadas na brasa. Sem hesitações, tratámos de decantar as duas garrafas, de modo a dar tempo ao vinho para respirar.

Esperámos por alguma exuberância aromática que não se manifestou no Vinhas Velhas, estando mais evidente no Reserva. Na boca apresentam-se macios mas o corpo é mediano e a persistência também. Para nossa surpresa, sendo de um patamar superior, o Vinhas Velhas voltou a mostrar-se mais contido e mais evoluído, enquanto o Reserva mostrou uma maior frescura. Ambos estagiados em madeira de carvalho nacional, facto realçado no contra-rótulo, esta não apareceu muito marcada, integrando-se bem no conjunto.

Em termos de balanço, pode-se dizer que se esperava mais. Tenho lido várias opiniões desencontradas acerca deste vinho e desta colheita em particular: umas elogiando o seu classicismo e suavidade, mantendo vivo o traço da tradição que nos permite regressar à base “quando já não temos paciência para os vinhos certinhos ou muito concentrados e extraídos, acabamos por encontrar consolo nos vinhos mais frescos, elegantes e complexos que se faziam primeiro”; outras considerando que o vinho não tem uma boa relação qualidade-preço, que é algo desequilibrado em termos de álcool e que decepciona face às expectativas. Tendo a inclinar-me mais para esta última opinião, parecendo-me que é uma marca que vive muito do nome mas a que falta talvez alguma alma. E, no entanto, como eu gosto de regressar aos clássicos...

No caso do Vinhas Velhas, embora teoricamente melhor que o Reserva, também não me parece que justifique o preço. Se para o Reserva ainda se pode questionar ou não o patamar de preço, no caso do Vinhas Velhas não justifica a compra, pois aquilo que perde em frescura com a idade, não ganha em complexidade como seria de esperar.

Os diletantes preguiçosos:
Kroniketas, enófilo esclarecido, com revisão e censura de tuguinho, enófilo preguiçoso


Região: Alentejo (Portalegre)
Produtor: Tapada do Chaves, Sociedade Agrícola e Comercial

Vinho: Tapada do Chaves Reserva 2002 (T)
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Castelão
Preço: 12 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Tapada do Chaves Vinhas Velhas Reserva 2002 (T)
Grau alcoólico: 13%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Castelão, Tinta Francesa
Preço: 17 €
Nota (0 a 10): 8

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