No meu copo 281 - Bairrada: o regresso aos clássicos

Quinta das Bágeiras Garrafeira 2003; Baga Encontro 2005; Quinta das Baceladas 2005;
Quinta da Alorna Reserva, Chardonnay 2008




A propósito dos posts anteriores sobre as provas das Cortes de Cima e da Herdade da Malhadinha Nova, há tempos dizia-me o Politikos que os vinhos alentejanos cada vez o seduzem menos. Lembrei-me desta afirmação ao reflectir sobre as características daqueles vinhos, cada vez mais uniformizados e menos típicos (no sentido de ser possível detectar a sua origem ao prová-los). Não será este um dos motivos para esse interesse decrescente? É que para bebermos vinhos com algum carácter de Alentejo somos “obrigados” a regressar aos clássicos, como os da Cooperativa de Reguengos de Monsaraz, da Adega Cooperativa de Borba, da Tapada do Chaves ou da Cartuxa (o Esporão é um caso à parte de qualidade e modernidade dentro do clássico).

Esta proliferação de vinhos com perfil de novo mundo faz-nos sentir vontade, de vez em quando, de regressar aos clássicos. Desta vez fizemo-lo com aqueles que serão, porventura, os mais clássicos dos clássicos: os tintos da Bairrada à base da casta Baga. Tínhamos em agenda algumas garrafas do stock que resolvemos abrir por ocasião da final da Liga dos Campeões em futebol, no que também se vai tornando um clássico (fizemo-lo pelo 3.º ano consecutivo).

A entrada fez-se com uns camarões fritos por mestre Mancha, acompanhados por um belo branco monocasta Chardonnay da Quinta da Alorna fornecido por um dos comparsas. Para minha satisfação, não revelou aquele travo amanteigado e enjoativo de muitos Chardonnay portugueses, principalmente quando fermentados e/ou estagiados em madeira. Apresentou-se fresco, vivo e persistente, com óptima acidez e a fazer muito boa companhia à gordura dos camarões fritos.

Para a parte mais substancial foram chamadas à liça umas postas mirandesas e umas gravatinhas de porco. Os tintos foram abertos antecipadamente, começando-se pelo Quinta das Bágeiras, previamente decantado, seguindo-se o Baga Encontro e finalmente o Quinta das Baceladas.

O que se pode dizer destes vinhos que seja original? Praticamente nada. Neles podemos apreciar aromas terciários profundos, resultado já de alguma evolução em garrafa, mantendo-se uma estrutura e uma acidez correctas e um grande fim de boca. São vinhos autênticos, genuínos, robustos mas sem serem rústicos. O Quinta das Bágeiras foi naturalmente o que se apresentou com um perfil mais clássico, daqueles Baga bem robustos e com potencial para outros tantos anos. O Baga Encontro pareceu um pouco menos vivo, enquanto o Quinta das Baceladas, um lote de Baga, Merlot e Cabernet Sauvignon, apareceu com grande saúde e com uma acidez mais vibrante do que os anteriores.

Qualquer um destes três vinhos justificou plenamente a aposta, remetendo-nos para os vinhos que se faziam há mais de uma década. Retomando uma frase já aqui dita, ainda bem que nos esquecemos destas garrafas durante uns tempos, para de vez em quando podermos ir buscá-las e apreciar vinhos a sério, de tempos em que não se procurava a superconcentração e as bombas de fruta e álcool. Estes são dos tais que já não se fazem… ou quase.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta da Alorna Reserva, Chardonnay 2008 (B)
Região: Tejo (Almeirim)
Produtor: Quinta da Alorna Vinhos
Grau alcoólico: 14%
Casta: Chardonnay
Preço: 8 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Quinta das Bágeiras Garrafeira 2003 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Mário Sérgio Alves Nuno
Grau alcoólico: 14%
Casta: Baga
Preço: 17,13 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Baga Encontro 2005 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Quinta do Encontro, Soc. Vitivinícola - Dão Sul
Grau alcoólico: 14,5%
Casta: Baga
Preço: 24,65 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Quinta das Baceladas 2005 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Aliança - Vinhos de Portugal
Grau alcoólico: 14,5%
Casta: Merlot, Cabernet Sauvignon, Baga
Preço: 9,44 €
Nota (0 a 10): 8

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