No meu copo 910 - Teixuga tinto 2014

Vídeo em https://youtu.be/8YJiNJeJR4A

Há coisas difíceis de explicar. E no mundo do vinho, em particular, tenho cada vez mais dificuldade em explicar algumas daquelas com que me vou deparando.

Este vinho é um desses casos. Em tempos tive oportunidade de provar o Teixuga branco, e era um grande vinho, um branco de enorme categoria com todas as condições para se guindar a um dos melhores do país.

No caso deste Teixuga tinto, dificilmente a decepção poderia ser maior, principalmente depois do balúrdio que me custou.

Não sei o que se passou com a empresa Caminhos Cruzados e o que levou à queda do projecto, e consequente aquisição por outros proprietários, nem isso agora está em causa, porque este vinho é de 2014, portanto bem anterior a esta mudança de mãos.

A verdade é que desde há mais de duas décadas que o Dão perdeu protagonismo no panorama dos vinhos nacionais, e tirando alguns produtores e enólogos que têm tentado devolver ao Dão a notoriedade que merece e recuperar a sua genuinidade – que lhe deu a tal notoriedade que tinha – parece que muita gente continua a não fazer a mínima ideia de para onde quer, ou deve, ir.

Este vinho é paradigmático do que afirmei atrás: é tudo menos um verdadeiro tinto do Dão, daqueles que os amantes do Dão sonham em voltar a beber; é um daqueles Dão que, parafraseando e adaptando a frase de Luís Ramos Lopes, director da revista Grandes Escolhas, “é um Dão que quer ser Douro quando for grande”. Parece que alguém, entre aquelas 5 serras que rodeiam a região vitivinícola, ainda não percebeu que não é querendo à força imitar o Douro (ainda por cima naquilo que ele tem de mais maçador e saturante) que vão a algum lado.

Querer fazer vinhos no Dão iguais ao Douro não só é uma fantasia condenada ao fracasso, como é mais uma machadada naquilo que o Dão poderia, e deveria, voltar a ser.

Toda a gente sabe que as imitações são sempre piores que os originais, e num país onde toda a gente se gaba da enorme variedade de castas e terroirs que existem, e onde todos enchem a boca com a “tipicidade” – para mais numa região onde agora até foram criadas denominações para as sub-regiões, para melhor mostrar nos rótulos aquilo que existe em cada micro-zona que é diferente do vizinho do lado, sim, porque eu é que sou o dono do meu quintalzinho – é um completo absurdo querer fazer do Dão uma espécie de “Douro de segunda”. Ainda por cima, com preços exorbitantes como este...???

O que terão a dizer, por exemplo, produtores e enólogos como os da Casa da Passarela, Casa de Santar, Pedra Cancela, Quinta da Pellada, só para citar alguns daqueles que fazem vinhos que representam a verdadeira identidade do Dão?

Este Teixuga tinto é um dos muitos infelizes exemplos dos malefícios dum certo “modismo” dos vinhos que aconteceu um pouco por todo o lado, mas que há muito deveria estar erradicado: superconcentrado, superextraído, pesadão, maçador, enjoativo, agressivo, áspero, cansativo. Bebe-se um copo, com algum dificuldade bebe-se o segundo e não se consegue beber mais.

Três dias depois de ter aberto a garrafa, ainda não tinha conseguido beber mais de 1/3 do seu conteúdo... Uma semana depois ainda não tinha conseguido acabá-la, e foi a custo que o fiz, porque não me apetecia voltar a bebê-lo em nenhuma ocasião e a nenhuma refeição. Dum vinho que custou 45 € tem de se esperar mais, muitíssimo mais!

Querem seguir este caminho? Força nisso e boa sorte. Eu saio na próxima paragem.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Teixuga 2014 (T)
Região: Dão
Produtor: Caminhos Cruzados
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional e outras
Preço: 45 €
Nota (0 a 10): 6

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