No meu copo 883 - Quinta da Fonte Souto tinto 2017

aqui o referimos há cerca de um ano: o mundo do vinho em Portugal está em grande azáfama com a movimentação de produtores para fora das suas zonas de origem (a Aveleda migrou do seu berço, no Minho, para o outro extremo do país, no Algarve).

Desde há décadas que os vinhos de Portalegre granjearam fama entre os apreciadores, por serem necessariamente diferentes dos vinhos da planície interior. Ainda hoje, tanto os vinhos da Tapada do Chaves como os Portalegre DOC marcam alguma diferença e uma identidade muito própria que trouxeram até aos dias de hoje. É certamente essa identidade que os novos produtores aqui chegados vieram procurar junto das encostas da Serra de São Mamede.

Um dos projectos recentemente desenvolvidos é este da Symington Family Estates, uma empresa que agrupa diversos nomes famosos na produção de vinho do Porto (Dow’s e Graham’s são duas referências incontornáveis) e que produz também algumas marcas de vinho de mesa do Douro como o Altano, o Prazo de Roriz, as várias marcas da Quinta do Vesúvio e o Chryseia.

À semelhança da Fundação Eugénio de Almeida (com a aquisição da Tapada do Chaves à Murganheira) e da Sogrape (com a Quinta do Centro), temos a Symington a apostar na altitude dos vinhos de Portalegre com os vinhos Quinta da Fonte Souto, esta sim uma marca verdadeiramente nova.

E o que nos traz esta nova marca? Para já, nada de particularmente entusiasmante. É verdade que são os primeiros passos, não é uma marca estabelecida há décadas como as outras e é preciso cair algumas vezes para começar a andar.

O que eu tenho a dizer como primeira abordagem a este tinto Quinta da Fonte Souto é que parece um Douro feito no Alentejo. Falta verdadeiramente o carácter do Alentejo no copo, assim como o carácter da altitude. O vinho é demasiado concentrado e demasiado extraído, não cheira nem sabe a vinho alentejano.

Ao abrir a garrafa, olha-se para aquela cor carregadíssima, quase opaca, e pensa-se logo nos tintos pesadões que invadem o Douro de lés-a-lés. No aroma o mesmo, na boca idem, e cansa logo ao segundo copo.

Lembram-se do Bairrada São Domingos Garrafeira 2011, que não tem Baga mas todo ele é Bairrada dentro da garrafa? Pois é o contrário deste: as castas estão lá, mas o carácter alentejano não.

O projecto é novo e tem muito tempo para afinar, e certamente ninguém quer saber daquilo que eu acho. Mas este não é, de todo, um vinho alentejano para vingar enquanto tal se mantiver este perfil, porque para fazer vinho do Douro no Alentejo não vale a pena o trabalho…

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta da Fonte Souto 2017 (T)
Região: Alentejo (Portalegre)
Produtor: Symington Family Estates
Grau alcoólico: 14%
Castas: Alicante Bouschet (40%), Trincadeira (25%), Cabernet Sauvignon (15%), Syrah (10%), Alfrocheiro (10%)
Preço: 14,95 €
Nota (0 a 10): 6


Vídeo em https://youtu.be/idDK926bn5c

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