No meu copo 600 - Tintos velhos da Bairrada (9)

CR&F Garrafeira 1980; Messias Garrafeira 1983; Vilarinho do Bairro Garrafeira 1983; Dom Teodósio Garrafeira 1985

  

Para assinalar mais uma centena de posts (a 6ª) dedicados a vinhos provados à mesa, nada melhor do que voltar à senda dos vinhos velhos da Bairrada, agora com os restos de colecção de algumas verdadeiras relíquias. São os últimos exemplares que foram ficando guardados durante anos na garrafeira e que agora temos ido desbastando a pouco-e-pouco. Algumas destas marcas já nem sequer existem, tendo sido absorvidas por outros produtores que entretanto foram surgindo.

Uma das empresas clássicas era a Carvalho, Ribeiro & Ferreira, que produzia vinho em várias regiões e um Garrafeira com o próprio nome, que há algum tempo tivemos a possibilidade de provar. Este Bairrada CR&F Garrafeira de 1980 foi um vinho de que adquiri inúmeras garrafas durante a década de 90, em locais diversos. Tornou-se um caso de paixão, que me levou a construir um stock em quantidade suficiente para sobreviver durante cerca de duas décadas. Foi consumido com parcimónia, na companhia de apreciadores do género, que foram acompanhando a sua evolução em garrafa. A partir de certo ponto entrou num patamar de estabilidade donde parece não sair mais. Não decaiu nem melhorou. Era um vinho bem estruturado mas elegante, macio, persistente e de cor rubi aberta. Manteve esse perfil ao longo dos anos, agora naturalmente com muito menor vivacidade mas ainda com acidez suficientemente presente para não se tornar chato nem morto. Devido à sua extrema delicadeza, bebemo-lo preferencialmente com bifes à café, não excessivamente temperados mas bem regados com molho, e foi sempre uma excelente parceria.

Outro caso semelhante foi o Messias Garrafeira de 1983, também com um stock que durou anos. Tivemos, aliás, oportunidade de o partilhar com os participantes no 1º encontro de eno-blogs, há uns anos. Era um vinho mais pujante e muito aromático, mas que entrou também numa fase de equilíbrio precário, precisando por isso de ser tratado com todos os cuidados, mas mostrou que valeu a pena mantê-lo na garrafeira até aqui.

Da mesma idade, outra marca que se vê pouco e do tempo em que os vinhos tinham 11 ou 12% de álcool. Este Garrafeira 1983 da Adega Cooperativa de Vilarinho do Bairro também fez as nossas delícias em tempos, e na sua época foi muito bem classificado no Guia Comporta de Vinhos Portugueses, que se publicava na década de 90 do século passado. Também sobreviveu à prova do tempo e chegou a esta fase pleno de saúde, ainda com alguma pujança (quanto baste...) e aroma “quase” jovem.

Finalmente, um vinho uma década mais novo. As Caves Dom Teodósio foram um dos produtores absorvidos pela actual Enoport, que engloba também as antigas Caves Velhas. Este Dom Teodósio Garrafeira de 1995, oriundo do produtor original, estava fantástico. Cheio de vigor, estrutura e frescura, bouquet profundo, aromas terciários intermináveis. Estagiou primeiro em barricas de carvalho e depois um ano garrafa para obter a designação de “Garrafeira”. Em termos de cor e estrutura fez-me lembrar o Caves São João Reserva Particular de 1959, que provei na visita guiada àquele produtor. Um daqueles Bairrada à moda antiga, provavelmente um dos últimos exemplares que se conseguiu encontrar à venda, e que deixa saudades.

Todos eles deixam saudades.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Bairrada

Vinho: CR&F Garrafeira 1980 (T)
Produtor: Carvalho, Ribeiro & Ferreira
Grau alcoólico: 11,5%
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Messias Garrafeira 1983 (T)
Produtor: Sociedade Agrícola e Comercial dos Vinhos Messias
Grau alcoólico: 11,5%
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Vilarinho do Bairro Garrafeira 1983 (T)
Produtor: Adega Cooperativa de Vilarinho do Bairro
Grau alcoólico: 11,5%
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Dom Teodósio Garrafeira 1985 (T)
Produtor: Caves Dom Teodósio
Grau alcoólico: 12%
Castas: Baga, Castelão, Tinta Pinheira
Nota (0 a 10): 9

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