Encontro com o Vinho e os Sabores 2014 (3ª parte)

Os gloriosos anos 60 das Caves São João


   

O princípio da tarde do último dia foi reservado para mais uma prova especial, dedicada aos vinhos das Caves São João lançados na década de 60 do século passado. Apresentados pelo enólogo José Carvalheira e pela gerente Célia Alves, ao longo de 1 hora e meia desfilaram colheitas de brancos e tintos, do Dão e da Bairrada, com base nas marcas Porta dos Cavaleiros e Frei João.

Houve Colheitas e houve Reservas. Houve ainda, no final, um Caves São João Reserva Particular 1967 (um vinho guloso, porventura o melhor da prova) e uma Aguardente Velhíssima de 1965, a primeira certificada com denominação Bairrada. Mas houve, sobretudo, uma viagem inigualável pelo tempo para encontrar vinhos de excelência que fazem parte da história e do património vinícola nacional, verdadeiros embaixadores da essência do Dão e da Bairrada e que as Caves São João zelosamente guardaram ao longo de décadas. Actualmente, é a empresa com maior e mais diversificado património vinícola em Portugal (cerca de 1 milhão de garrafas em cave) e a mais antiga em actividade no sector - desde 1920, à beira de completar um século, o que tem motivado o lançamento de várias colheitas comemorativas desde os 90 anos de história, onde também se enquadra esta aguardente velhíssima prestes a sair para o mercado.

Tentar descrever vinhos de 1963, 64, 66, 67 é quase uma blasfémia. Vinhos destes não se descrevem, saboreiam-se e aspiram-se até ao último odor. Vamos, por isso, listar apenas os vinhos provados e resumir algumas curtas considerações.

Do Dão tivemos o Porta dos Cavaleiros branco 1964, os tintos 1963, 1966 e Reserva 1966. Da Bairrada o Frei João branco 1966, os tintos Reserva 1963, Reserva 1966 e Colheita 1966.

Os Porta dos Cavaleiros, habitualmente com uma presença de Baga na ordem dos 25% no meio do Dão, são habitualmente longos, suaves, elegantes, com taninos presentes mas muito macios, com um certo aroma a fundo do bosque. Mostraram grande saúde tanto no nariz como na boca.

Os Frei João mostraram o carácter da Bairrada, com muitas notas de aromas terciários com muita evolução, taninos ainda sólidos, boa estrutura e final longo, alguns ainda muito carregados na cor e com acidez bem presente, a mostrarem como é notável o potencial de evolução dos vinhos da região.

Quanto aos brancos provados, mostraram ainda boa saúde e alguma fruta e acidez, embora eu não seja tão apreciador do género como nos tintos.

Mais uma vez comprovou-se aquilo que digo muitas vezes: quem nunca provou vinhos velhos não faz ideia do que perde e nunca apreciou verdadeiramente um néctar destes em todo o seu esplendor.

Obrigado às Caves São João e aos seus responsáveis, presentes numa mesa bem preenchida, por mais este momento memorável.

Kroniketas, enófilo itinerante

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