Dãowinelover Masterclass: Dão Sul - Quinta de Cabriz (2ª parte)

    

Falemos agora um pouco dos vinhos provados, cuja prova se repartiu entre os períodos antes e depois do almoço. Em 35 referências colocadas à disposição dos visitantes, seria fastidioso enumerar ou querer dissertar sobre cada uma delas. No entanto, alguns dos vinhos provados mereceram-nos especial atenção.

Desde logo, numa das mesas estavam disponíveis provas verticais de 3 marcas de vinhos, mesmo anteriores à criação da Dão Sul e à aquisição da Casa de Santar pela empresa. Destaque para os Casa de Santar de 1965, 1975 e 1983, que dividiram opiniões. Houve quem preferisse claramente o de 1965 (como foi o caso do Politikos, um dos meus companheiros de viagem), e houve quem preferisse o de 1983 e que considerasse que o de 1965 apresentava oxidação em demasia e já aromas a lembrar o vinho do Porto, como foi o meu caso. A colheita de 1983, por sua vez, mostrava uma cor ainda bastante concentrada, alguma frescura no aroma e vivacidade na prova de boca, parecendo um vinho bem mais novo do que os 30 anos que ostentava. Mas a discussão continuou e não se chegaria a nenhum consenso, pelo que as opiniões se mantiveram de ambos os lados.

Em parceria com estes, havia 4 colheitas do Casa de Santar Touriga Nacional (colheitas de 2000, 2006, 2007 e 2010) e do Quinta de Cabriz Touriga Nacional (colheitas de 2003, 2004, 2007 e 2010). Em ambos os casos, a minha preferência foi para a colheita mais antiga, mas o que ficou mais evidente foi a superior elegância e suavidade dos vinhos provenientes de Santar, em contraponto com os vinhos de Cabriz, genericamente mais robustos e rústicos. Como foi explicado na apresentação inicial, existe uma diferença de altitude e de clima entre as vinhas das duas quintas, com mais calor em Cabriz e mais frescura em Santar, o que proporciona maturações mais lentas. Estas pequenas diferenças estão claramente marcadas desde há muitos anos nos vinhos das duas marcas, atravessando toda a gama. No caso do Cabriz Touriga Nacional de 2003, a idade já nos permitiu apreciar um vinho bem integrado, amaciado pelo tempo e ainda com grande concentração mas já bem equilibrado, o que já não se verifica nas colheitas mais recentes, e em particular na de 2010.

Noutra mesa, os brancos de topo: Conde de Santar, Cabriz Encruzado, Four CCCC, Condessa de Santar, Paço dos Cunhas de Santar Vinha do Contador, Casa de Santar Reserva. Cinco pesos pesados no portefólio de brancos, com destaque para o Condessa de Santar. Há alguns anos tínhamos adquirido e bebido uma garrafa da colheita de 2005, que o tuguinho fez questão de abrir com um arroz de tamboril, que não agradou à generalidade dos presentes e que calhou pessimamente com o prato: muito pesado e marcado pela madeira, enjoativo, difícil de conjugar com qualquer prato. Agora, pelo contrário, encontrámos um vinho com a madeira na devida conta, peso e medida, quase imperceptível, e mais marcado pela frescura, pelos aromas a fruta e boa estrutura com final longo e vivo. Uma bela surpresa.

Melhor surpresa nos esperava na 3ª mesa, onde estavam os vinhos desde as gamas de entrada até aos Reservas, passando pelo Colheita Tardia e pelos espumantes. Para além do já conhecido Cabriz bruto, a grande revelação foi o espumante Condessa de Santar, um vinho de grande nível quase a alcandorar-se ao patamar dos champanhes e a bater-se com os melhores espumantes do país.

No caso do Outono de Santar Colheita Tardia, elaborado apenas a partir de Encruzado, apresenta um perfil algo diferente da maioria dos vinhos do género, mais aberto e fresco, com uma cor menos carregada. É um vinho que se bebe a solo, podendo servir-se como aperitivo ou para acompanhar sobremesas. Apresenta a doçura expectável num colheita tardia combinada com um toque cítrico que lhe confere um perfil diferente, com menos melaço do que o habitual, pelo que apresenta uma frescura que também permite que seja bebido a solo. É uma aposta que tem todas as condições para dar certo.

Dentro da restante gama, marcou pontos o Casa de Santar Colheita branco, em vias de sair para o mercado, assim como o Casa de Santar Reserva tinto, sempre uma referência nos vinhos a rondar os 10 €, com uma elegância e uma suavidade notáveis, um daqueles vinhos que nunca desilude. Muito equilibrado o Cabriz Encruzado, leve e aromático. De todos, um dos brancos mais bem conseguidos.

E assim fomos passando o resto da tarde até anoitecer e ser horas de regressar, sempre em agradável convívio com os outros Dãowinelovers e com a equipa que sempre nos acompanhou. Após algumas fotografias de família para a posteridade, restou agradecer a toda a equipa da Dão Sul que tão simpaticamente nos recebeu, sempre com o muito simpático e disponível director de enologia Osvaldo Amado no comando das operações, e muito bem assessorado pelos seus não menos simpáticos e disponíveis colaboradores. Mais uma vez, os nossos parabéns e agradecimentos aos criadores, organizadores e dinamizadores do evento, Rui e Miguel.

Foi mais uma excelente jornada de propaganda aos vinhos do Dão e a melhor forma de assinalar o primeiro aniversário do primeiro evento dos Dãowinelovers. Ficamos agora à espera das próximas iniciativas, onde aguardo com particular expectativa e entusiamo o anunciado... Bairradão: um evento dedicado aos amantes dos vinhos da Bairrada e do Dão.

Continua nos próximos episódios...

Kroniketas, Dãowinelover

Nota: por não dispormos de fotos dos vinhos com a qualidade necessária, algumas das imagens deste post foram obtidas a partir de outras publicações no grupo #daowinelover no Facebook, com a devida vénia aos nossos comparsas.

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