Encontro com o Vinho e os Sabores 2013 - As nossas visitas

 

Este é um ritual que já celebramos há bastantes anos. O Encontro com o Vinho e Sabores, organizado pela Revista de Vinhos, é sempre um marco no nosso ano vínico, chamemos-lhe assim, e um acontecimento da maior importância para todos os amantes do vinho. Por isso, mais uma vez, lá estivemos presentes no passado sábado (e não só), com a maior satisfação e disponibilidade.

Antes de falarmos mais sobre o certame e as provas, algumas considerações gerais. A quem tem ido lá todos os anos, como nós, é fácil constatar várias coisas: a afluência de público que cresceu de forma acentuada nos últimos anos o que, embora espelhe o êxito do evento, torna cada vez mais difícil o seu usufruto; a alteração na composição desse mesmo público, que passou do quase exclusivamente masculino para um equilíbrio entre os géneros, o que muito nos apraz por diversos motivos; a manutenção da representatividade dos produtores, apesar das flutuações naturais neste tipo de organizações.

A experiência deste ano começou na noite de 6ª feira, em que o Kroniketas aproveitou não só para fazer uma primeira ronda pelos stands e estar presente na divulgação dos prémios da imprensa, como se aventurou pelas mesas do restaurante Jacinto num convite de última hora (mas deste acontecimento noutra posta se falará).

Vamos então às impressões destes escribas sobre os vinhos provados no Encontro, recolhidas no sábado à tarde. Desde logo se notou a afluência mais vespertina do público, apresentando-se o pavilhão bem cheio logo por volta das 16 horas. Começou-se pela ala direita do certame, zona onde pontificam habitualmente verdes e espumantes, e foi exactamente por um verde estreme da casta Loureiro que se iniciaram as lides. O vinho da Casa da Senra mostrou grande afabilidade, sem exagero na acidez e sabor acentuado à casta. Correcto e apetecível.

Continuou-se pelos brancos com um Chardonnay Quinta do Valdoeiro, da Messias, que se mostrou escorreito, a mostrar que a casta também aqui pode fazer vinhos de valor, embora diferentes dos obtidos na origem ou nas versões Novo Mundo (leia-se, essencialmente, Nova Zelândia). Provou-se a seguir um Encruzado da Quinta da Pellada (Álvaro Castro) que, apesar do potencial que se lhe adivinhou, mostrou-se ainda muito novo e um tanto agreste. De certeza que o tempo o transformará em mais um excelente Encruzado deste produtor, que de há muito nos habituou a elevada qualidade.

A intenção de efectuar uma primeira volta só a provar brancos e fazer uma segunda passagem só para os tintos mostrou-se impossível de concretizar, pelo que se passou a usar o método habitual, ou seja, tudo à mistura.

O Bairrada estreme de Merlot (pois, agora pode) Nelson Neves Reserva mostrou-se correcto nos taninos, aromas e sabores da casta mas, como os nossos leitores já sabem, a nossa Bairrada preferida não passa por aqui. Um bom Merlot, mas que podia ser feito noutra região qualquer. De caminho provou-se também um “velho” conhecido, o Moscatel Galego da Quinta do Vallado, fresco e com o moscatel bem presente, bem adequado a pratos leves ou entradas.

Os clássicos Meandro e Quinta do Vale Meão mostraram-se iguais a si próprios, mas temos de confessar que é um perfil que começa a cansar e a saber a mais do mesmo, não refutando a sua notável qualidade. São gostos...

Outros destaques foram o Frei João Reserva 1990 em garrafa magnum, das Caves São João, o espumante Quinta do Encontro Special Cuvée (foi um dos premiados) e os Villa Maria Sauvignon Blanc e Sauvignon Blanc Reserve, assim como o Riesling e o Pinot Noir. Também se experimentou o Antónia Adelaide Ferreira no stand da Sogrape e uma grande surpresa foi um espumante de Arinto da A. C. Borba, muito bem conseguido e com uma frescura inesperada para aquelas paragens.

Acabámos também por descobrir dois produtores que não tínhamos o prazer de conhecer, um do Douro, outro do Dão. Comecemos pela Vinilourenço, onde se provaram dois monocastas durienses sob a chancela D. Graça, um de Tinto Cão, outro de Sousão. Ambos se mostraram equilibrados, com os taninos domados e sabor característico das castas que lhes deram origem. Sendo o escriba apreciador confesso da casta Tinto Cão, gostou bastante do exemplar provado – casta que não anda pelos sabores florais ou de fruta, de bom corpo sem deixar de ser elegante, pode não ser da moda mas esta metade das Krónikas gosta muito; surpreendeu a casta Sousão (Vinhão na zona dos Vinhos Verdes), tanto pelo corpo como pelo fim de boca que se diria reverberar o sabor sentido no início da prova – não a conhecíamos em versão estreme, embora seja um clássico no verde tinto e nos lotes de Porto. Só agora começa a surgir com maior notoriedade em nome próprio e parece-nos que daqui poderão sair grandes vinhos, se não se enveredar pelas bombas de fruta e álcool e quejandos.

O outro produtor dá pelo nome de Quinta das Camélias. Provaram-se um Touriga Nacional e um Reserva de lote, com castas características da região (Touriga, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Jaen). Embora o Touriga Nacional se mostrasse de grande classe, a nossa preferência foi para o clássico de lote, que evidenciava todas as características que idolatramos nos tintos do Dão, a começar pela elegância e continuando na complexidade de aroma e sabor, naqueles níveis a que um vinho de uma única casta, por muito bom que seja, nunca conseguirá chegar (na nossa opinião, claro).

Terminou-se o périplo com uma ligeira incursão pelos Portos, que a condução posterior não permitia abundâncias etílicas. Desta vez optou-se por provar três tawnies de dois produtores: um Niepoort de 20 anos e dois Kopke, um de 10 e outro de 20 anos. Não há muito a dizer sobre estas três maravilhas – o nosso favor continua a oscilar entre a força dos Vintage e a beleza dos Tawnies velhos –, apenas que, em termos de perfil, os Kopke nos agradaram imenso.

Como já referimos, fomos amavelmente convidados (com direito a um representante, tarefa que esteve a cargo do Kroniketas) para a prova aberta à imprensa e bloggers com os 44 vinhos premiados na Escolha da Imprensa, que englobava 4 categorias: espumantes, brancos, tintos e fortificados (nenhum dos rosés avaliados teve direito a prémio).

Infelizmente, no início da prova nenhum dos vinhos estava à temperatura correcta (nem sequer os brancos e espumantes), com a excepção dos Portos Burmester 1937 e 1965, que estavam no frio e, como não existiam cuspideiras, não havia para onde deitar fora o vinho, pelo que os participantes o foram despejando no gelo onde estavam as garrafas a refrescar. Só cerca de 10 minutos depois apareceram dois bidões para servirem de cuspideiras e os vinhos, com o tempo, lá foram ficando capazes para provar.

A meio dos tintos voltou-se a um espumante rosé da Aliança, para refrescar a boca que já estava encortiçada de tanto tinto morno. E no Quinta da Leda ainda se teve direito a um bocado de rolha esfarelada dentro do copo...

Agradaram bastante os espumantes premiados, todos bem feitos, e nos brancos destacou-se o Viosinho da Quinta do Gradil, com excelente acidez e muita frescura, muito equilibrado e com boa estrutura mas elegante. Outro destaque para o Poeira branco, uma boa novidade.

A seguir aos Portos da Burmester só se experimentou um Noval 2001 e, como saltou imediatamente o álcool ao nariz, acabou-se a prova por aqui.

Chegado o tempo de partir, que o derby estava à porta, ainda houve tempo para agradecer os convites oferecidos pela Revista de Vinhos à gestora de produto da revista e para comprar umas castanhas de Trás-os-Montes que, digo-vos já, estavam óptimas!

Fica aqui também um agradecimento especial pelo convite dirigido a este blog bem como a respectiva credenciação para o acesso à prova dos vinhos premiados na escolha da imprensa. Há que ter em atenção, contudo, à logística deste evento paralelo que não é assim tão complicada. Tendo em conta a longa experiência tanto da organização como dos produtores neste tipo de certames, não se compreende que não se tenha tido na preparação da prova os cuidados básicos que qualquer enófilo minimamente experiente tem em casa: as garrafas tinham de estar à temperatura correcta para a prova antes de serem transportadas para o local, os brancos e espumantes tinham de estar já devidamente frescos e as cuspideiras tinham de estar a postos, para não se incorrer na situação verificada, de começarmos a provar espumantes que nem frios estavam e ficarmos a olhar para os produtores e os produtores para nós, sem sabermos o que fazer ao vinho que tínhamos no copo porque o mesmo não estava bebível e não tínhamos onde o despejar... Uma falha a corrigir em próximas edições, quem em nada retira o mérito a esta enorme empreitada. Mas como no melhor pano cai a nódoa, convém não descurar os detalhes para que não ocorram situações embaraçosas. Até porque provar vinhos a tender para o morno não faz jus à qualidade que os levou a serem premiados.

Até para o ano!

tuguinho, enófilo esforçado e às vezes regressado

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