No meu copo 1052 - Porta da Ravessa Reserva tinto 2019

Vídeo em https://youtu.be/7aORNvpd3Uw

Em tempos foi uma marca com algum destaque, quando o panorama dos vinhos alentejanos pouco tinha a ver com o actual, e estava centrado essencialmente nas adegas cooperativas.

Durante a década de 90, e principalmente já no novo milénio, o número de produtores presentes no Alentejo cresceu exponencialmente, com o aparecimento de novas empresas e também com o estabelecimento na região de produtores oriundos de outras regiões.

Nos anos mais recentes – e só para citar alguns – a Fundação Eugénio de Almeida, produtora dos vinhos da Adega da Cartuxa em Évora; a Sogrape, maior produtor nacional e já estabelecida no Alentejo com a Herdade do Peso, na sub-região da Vidigueira; e a Symington, produtora de vinhos do Porto e DOC Douro, criaram novos projectos na sub-região de Portalegre, respectivamente na Tapada do Chaves (anterior propriedade da Murganheira), Quinta da Fonte Souto e Quinta do Centro (anterior propriedade de Richard Mayson e enologia de Rui Reguinga).

Esse crescimento revelou-se muito significativo na referida sub-região de Portalegre, bem como nas sub-regiões da Borba, Reguengos e Vidigueira. Fazendo uma pesquisa por produtores no site Vinhos do Alentejo podemos verificar que:

- Na sub-região de Borba existem 5 produtores no concelho de Borba e 18 no concelho de Estremoz;
- Na sub-região de Évora existem 13 no concelho de Évora e 6 no concelho de Arraiolos (sendo que só a freguesia de Igrejinha faz parte da sub-região);
- Na sub-região de Portalegre existem 11 no concelho de Portalegre;
- Na sub-região de Redondo existem 5 no concelho de Redondo;
- Na sub-região de Reguengos existem 11 no concelho de Reguengos de Monsaraz;
- Na sub-região da Vidigueira existem 18 no concelho da Vidigueira, 1 no concelho de Alvito e 2 no concelho de Cuba;
- Nas sub-regiões de Moura e Granja-Amareleja, em conjunto, que abrangem os concelhos de Moura, Serpa e Mourão, existem 8 produtores.

Portanto verificamos que, a ser correcta esta informação, na sub-região de Redondo o concelho-sede é aquele que tem menor número de produtores entre as seis maiores sub-regiões.

Por razões que não temos dados para explicar, esta parece ser uma região menos atractiva em comparação com Borba, Évora, Reguengos, Portalegre e Vidigueira.

Daqui resulta igualmente que os vinhos da Adega Cooperativa também perderam protagonismo relativamente às suas congéneres das outras sub-regiões.

Tudo isto dito, deparei-me com este Porta da Ravessa Reserva, um lançamento relativamente recente. Se o vinho pretende elevar o posicionamento da marca, já o preço nem tanto, uma vez que, com uma promoção de 25%, paguei por ele apenas 3,59 €, o que o mantém numa gama abaixo dos 5 € (4,79 € era o preço à partida).

No entanto resolvi experimentar a novidade, para ver como param as modas por aquelas bandas. O resultado foi apreciado em dois momentos diferentes, com cerca de um ano de intervalo.

A primeira prova, feita em 2021, mostrou um vinho imperfeito, quase inacabado, demasiado jovem para ser bebido com prazer. Claramente a precisar de tempo em garrafa para crescer.

Agora a mesma colheita mostrou-se diferente. Mais crescido, já com algum amadurecimento, mais completo e com os aromas e sabores mais integrados. A fruta mais em harmonia e uma estrutura mais estável. Mais bebível, em suma.

Não sendo um vinho encantador, esta segunda prova mostrou que merece uma segunda oportunidade e pode ser degustado com algum prazer. Tem algum corpo e algum tanino, sendo que o estágio de 6 meses em madeira lhe acrescenta alguma complexidade.

Para aquilo que pretende ser não se pode exigir muito mais, mas já se encontra num patamar e num estado de evolução aceitável.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Porta da Ravessa Reserva 2019 (T)
Região: Alentejo (Redondo)
Produtor: Adega Cooperativa de Redondo
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Syrah, Alicante Bouschet
Preço em hipermercado: 3,59 €
Nota (0 a 10): 7

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