No meu copo 833 - Quinta do Cerrado Reserva branco 2017

Era bom que este vinho correspondesse àquilo que anuncia no contra-rótulo:

“A superior colheita de 2017 deu frutos surpreendentes na adega. Um pequeno lote de Encruzado e Malvasia Fina estagiou nas melhores barricas novas de carvalho francês, pleno de aromas de especiarias doces, pêssego e casca cítrica.”

Pois é, só que o problema está mesmo nas melhores barricas novas de carvalho francês, que tudo abafam, tudo ofuscam, a tudo se sobrepõem, matam os aromas e a elegância do que poderia ser um belo vinho, com duas das melhores castas brancas nacionais... que não estão lá!

Nem sinal do floral da Malvasia, nem sinal da mineralidade do Encruzado. Frutado? Especiarias doces? Casca cítrica? Ná... Só as melhores barricas novas de carvalho francês!

Esta obsessão com a madeira nos vinhos portugueses já há muito que passou dos limites do razoável e do racional. Já são incontáveis os vinhos, pelo menos na última década e meia, que se transformaram em pau líquido por causa do malfadado estágio em madeira (principalmente nova), que em vez de melhorar o vinho dá cabo dele.

Tive este vinho aberto uma semana no frigorífico, fechado com rolha de vácuo. Experimentei-o com peixes, carnes, entradas, tudo o que era possível. Mas o aroma da madeira não se foi embora, não tem salvação possível.

O pior é que ainda vou ter de gramar com outra garrafa destas. Quando me livrar dela – é o termo adequado, livrar-me dela – este é para riscar.

Mas será que nunca mais aprendem?

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta do Cerrado Reserva 2017 (B)
Região: Dão
Produtor: União Comercial da Beira
Grau alcoólico: 13%
Castas: Encruzado, Malvasia Fina
Preço em feira de vinhos: 6,77 €
Nota (0 a 10): 5

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