No meu copo, na minha mesa 791 - Marquês dos Vales Primeira Selecção branco 2017; Taberna da Maré (Portimão)


É um dos restaurantes da moda em Portimão. Situado na zona da antiga lota, vulgarmente conhecida como “debaixo da ponte”, fica num local onde os restaurantes típicos se sucedem porta-com-porta (melhor dito seria esplanada-com-esplanada) e onde no Verão os clientes se acotovelam a partir das 8 da noite, principalmente para comer sardinhas assadas.

Até já as televisões descobriram a Taberna da Maré, e a SIC Notícias foi lá filmar para o Boa Cama Boa Mesa, enquanto a SportTv levou lá dois jogadores do Portimonense para a apresentação das equipas da nova época. Em ambos os casos, procuraram os carapaus (ou sardinhas) alimados, prato muito típico da região.

Para uma refeição baseada na gastronomia típica (com comida normal e não recriações estapafúrdias com espumas, camas e a fumegar...), a Taberna da Maré é, hoje por hoje, um dos locais a visitar. Come-se principalmente na rua (há uma esplanada de cada lado) o que permite ir apreciando o movimento dos passantes e dos funcionários que entram e saem do restaurante em grande azáfama.

A ementa tem muito por onde escolher, sendo os pratos à base de peixe a grande especialidade. Dentro destes, há um que pela sua originalidade desperta a atenção: chama-se “filetes pirilau com açorda”. O dito pirilau é o nome por que é conhecido um pequeno peixe de forma oblonga e que faz estes deliciosos filetes, que fazem lembrar os de peixe-galo.

Também a açorda de acompanhamento é uma especialidade, e recomenda-se vivamente para quem é apreciador do petisco.

A carta de sobremesas também é generosa, sendo que, coisa rara, a mousse de chocolate é verdadeiramente uma delícia, feita com todos os matadores. Sabor irrepreensível e consistência no ponto exacto, nem demasiado rija nem amolecida.

Das duas vezes que tive oportunidade de lá passar aconteceram ambas em Agosto, no pico da época de veraneio, pelo que o serviço pode tornar-se demorado e problemático.

Igualmente problemática é a gestão das mesas: só são aceites reservas até às 20:00, a partir daí é por ordem de chegada e pode ser demorado. Em grupos numerosos, só se sentam quando estão todos presentes, pois há sempre mais alguém à espera de mesa. Portanto o melhor é chegar bem cedo, e com sorte fica na esplanada.

No meio desta azáfama, várias pessoas nos atendem sempre com um sorriso. O serviço é tão eficiente quanto possível nesta época. Em Agosto no Algarve é melhor ir com paciência para as falhas que possam surgir. E quando a afluência aperta, é o próprio dono que vem para a rua orientar a distribuição dos clientes pelas mesas.

Falta falar do vinho. Em Roma sê romano, e embora houvesse outras hipóteses garantidas (como o inevitável Planalto), optou-se por um vinho da Quinta dos Vales de Estômbar, ali mesmo ao lado em Estômbar. Embora as castas tenham potencial, a verdade é que o vinho não convenceu grandemente. Frescura na boca quanto baste mas alguma falta de acidez, tornando-o algo linear a tender para o chato. A prova anterior deste vinho tinha sido bem mais convincente, com um outro lote de castas. A mudança de castas não parece ter melhorado nada.

Por algumas experiências recentes, parece haver um problema com a acidez dos vinhos algarvios. Têm tendência a ser lisos e tornar-se pesados e enjoativos. Aliás, já não é a primeira nem a segunda vez que isto acontece em lotes com Antão Vaz, até mesmo no Alentejo. Não basta mudar a casta de local para os resultados serem brilhantes.

Algo tem de ser corrigido para poderem ganhar outra visibilidade. Curiosamente isto não acontecia com o Alvor Singular, que tive oportunidade de provar vários anos e sempre se mostrou bastante agradável e com vivacidade (agora está a ser produzido pela Aveleda com a marca Villa Alvor). Mas o panorama mais geral não parece ser este. Têm a palavra os viticultores e os enólogos, e espero que o caminho não seja o regresso aos insuportáveis excessos de madeira e de álcool e às sobrematurações, porque disso já tivemos que chegasse.

Kroniketas, enófilo itinerante

Vinho: Marquês dos Vales Primeira Selecção 2017 (B)
Região: Algarve (Lagoa)
Produtor: Quinta dos Vales - Agricultura e Turismo
Grau alcoólico: 12%
Castas: Viognier, Arinto, Antão Vaz
Preço: 7,5 €
Nota (0 a 10): 7

Restaurante: Taberna da Maré
Travessa da Barca, 9
8500-755 Portimão
Telef: 282.414.614
Preço médio por refeição: 25 €
Nota (0 a 5): 4

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