No Le Consulat (1) - Novas colheitas da Quinta de Cidrô



Mais um evento, mais uma extensa prova. Não há mãos a medir.

Foi num novo espaço surgido no Chiado, na Praça Luís de Camões, no edifício de um antigo hotel, que no passado dia 20 a Real Companhia Velha apresentou as suas novas colheitas da Quinta de Cidrô, constituídas por 4 vinhos brancos, 3 tintos e um rosé.

No 1º andar do nº 22 daquela emblemática praça lisboeta, está a surgir um novo conceito que, ao que parece, ainda vai ter mais novidades. Para além duma zona comum onde os muitos convidados – entre bloggers, jornalistas, escanções ou profissionais de marketing e comunicação – puderam provar os vinhos apresentados e degustar alguns petiscos que entretanto uma equipa de sala ia fazendo desfilar em pequenas travessas, existe também do lado direito um winebar (a visitar quando houver mais tempo) gerido por André Ribeirinho, conhecido criador do site Adegga e do evento Adegga Wine Market e agora parceiro tecnológico da nova revista Vinho – Grandes Escolhas, e do lado esquerdo irá surgir um restaurante gerido pelo Chef André Magalhães, que confeccionou os petiscos que pudemos provar (delicioso o de pato desfiado). Nesse mesmo espaço do lado esquerdo, numa pequena sala, decorreu uma prova comentada destes mesmos vinhos, destinada a profissionais do sector.

Terminada essa apresentação específica, os três representantes da Real Companhia Velha juntaram-se aos restantes convivas onde se provou os vinhos mais ou menos a gosto. Presentes estiveram o agrónomo responsável pelas vinhas, Rui Soares, o director comercial Pedro Silva Reis (filho) e o enólogo Jorge Moreira (na foto, da esquerda para a direita por esta ordem).

Em prova, os brancos monocasta da colheita de 2016, apresentados por ordem alfabética: Alvarinho, Chardonnay, Gewürztraminer e Sauvignon Blanc; o rosé de 2016, agora com a Touriga Franca a acompanhar a já habitual Touriga Nacional; e os tintos Pinot Noir de 2014, Touriga Nacional de 2015 e a grande surpresa, o Cabernet Sauvignon & Touriga Nacional de... 2008!

Quanto aos vinhos propriamente ditos, o que se pode dizer é que a Real Companhia Velha não deixou os seus créditos por mãos alheias e brindou-nos com mais 8 belíssimos vinhos, todos diferentes entre si mas com características e qualidades muito próprias que merecem ser apreciadas.

No que respeita aos brancos, sendo eu fã incondicional do Sauvignon Blanc da casa, confesso que o vinho que me encheu as medidas foi o surpreendente Gewürztraminer (ainda não aprendi a pronunciar este nome...), com uma acidez, um aroma e uma persistência notáveis, que o colocaram num patamar acima de todos os outros (são gostos, claro). Enquanto o Sauvignon Blanc cumpriu o que se esperava mas pareceu precisar de crescer algum tempo em garrafa, pois os aromas parecem estar um pouco presos, o Chardonnay também não surpreendeu, com um ligeiro aroma a madeira a sobressair no início mas a desvanecer-se no copo depois de algum tempo a arejar, ficando o Alvarinho como o mais discreto, tanto no nariz como na boca. Pelo menos na comparação com as outras três castas, todas elas de aroma muito intenso, ficou algo atrás.

O rosé, um dos meus preferidos, não pareceu ganhar com a incorporação da Touriga Franca, ficando um pouco mais dose. Prefiro-o mais seco como antes, embora a diferença não seja significativa.

Quanto aos tintos, o Pinot Noir apresenta aquele perfil mais delgado e menos concentrado que é habitual na casta, pedindo pratos delicados para se expressar. O Touriga Nacional é o que é, não surpreende com as notas florais e a frutos vermelhos a predominar.

O grande vinho foi mesmo o mais antigo, o lote de 2008 de Cabernet e Touriga. Disse Jorge Moreira que era pena não poderem vender todos os seus tintos com 9 anos de idade, como este. A verdade é que o vinho está... enorme! Aroma intenso e vinoso, grandes estrutura e persistência, ao mesmo tempo redondo na boca e com taninos elegantíssimos. Um portento! Este e o branco Gewürztraminer entram imediatamente para a lista das compras a fazer numa próxima oportunidade!

A título informativo, junto às fotos publicadas a informação técnica sobre cada um dos vinhos, fornecida na nota de imprensa. Os preços indicados são os recomendados pelo produtor, sabendo-se que no comércio podem existir grandes variações entre este PVP e aquele que está na prateleira.

Está de parabéns a equipa que deu vida a estes vinhos. A aposta na marca Quinta de Cidrô – na posse da Real Companhia Velha desde 1972, com 140 ha de vinha a servirem de base para um campo de experimentação vitivinícola, como é descrito na nota de imprensa – com origem em vinhos monovarietais ou bi-varietais tem dado excelentes resultados, com novos perfis de vinho a contribuírem para a imagem dum Douro mais moderno e mais variado, mostrando que é possível produzir vinhos elegantes e suaves, sem os excessos que marcaram a região há uma década, e que as castas vindas de fora também têm boas condições para vingar. Assim a mão do homem dê uma ajudazinha.

Obrigado à equipa da Real Companhia Velha e, como não podia deixar de ser, à incansável Joana Pratas, sempre na linha da frente na comunicação, pelo convite para este interessante (e importante) evento.

Kroniketas, enófilo assoberbado com provas

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