No meu copo 372 - Cortes de Cima 2008; Aragonês 2005; Syrah 2008



Tendo em stock alguns vinhos deste produtor sediado na Vidigueira, escolhi uma ocasião em que fosse possível fazer uma prova comparada de várias garrafas. Estes estavam guardados há alguns anos, portanto com tempo para repousar e evoluir o suficiente para mostrar o que podem valer. De fora ficou um Homenagem a Hans Chrisitian Andersen 2007, para ocasião futura.

Em 2012 estive numa prova das Cortes de Cima na Delidelux, com 5 tintos e um branco, que no conjunto se mostrou um pouco decepcionante para aquilo que se esperava. É que este é, juntamente com o produtor referido no post anterior (Herdade da Malhadinha Nova), um dos produtores conceituados entre os mais modernos do Alentejo, sendo inclusive alvo de grandes encómios na imprensa especializada. A verdade é que, tal como aconteceu com a prova do Monte da Peceguina (e como já tinha acontecido noutra prova deste produtor também na Delidelux), começa a instalar-se em mim a sensação de que existem alguns produtores que caíram em graça, granjearam fama à sombra da qual cimentaram o nome, mas cujos produtos não o justificam. Começo a ter esta sensação também com as Cortes de Cima, depois de ter provado estes três vinhos, tendo confirmado esta mesma impressão numa recente prova na Wine O’Clock.

Não é minha intenção desmerecer o trabalho dos produtores e enólogos (quem sou eu, um amador, para o fazer?), mas enquanto consumidor que paga aquilo que prova, tenho direito à minha opinião que vai influenciar a minha decisão de compra...

Sobre estes três tintos há que dizer alguma coisa... O Cortes de Cima 2008, o standard da casa, digamos assim, pareceu um vinho normal. Equilibrado, medianamente estruturado e frutado, apresentou um fim de boca curto, aroma discreto e sem grande persistência.

Na posterior prova na Wine O’Clock, com a colheita de 2010, a sensação colhida foi a mesma. Tendo em conta que o preço de venda apresentado, 10,95 € (em feiras de vinhos consegue-se baixar 1 ou 2 euros), o pensamento que ocorre é algo como isto: por este preço, prefiro comprar um Casa de Santar Reserva, um Duas Quintas, um Vinha Grande, um Vila Santa ou um Casa Cadaval...

Seguiu-se a prova do Aragonês 2005. Este sim, mostrou um carácter alentejano, com boa estrutura e persistência, aroma exuberante e profundo, com predominância de frutos vermelhos e notas de especiarias. Na boca apresenta outra complexidade, com a fruta bem integrada numa estrutura de taninos firmes mas suaves. Envelhecido 7 meses em barricas de carvalho americano. Adquirido em 2010 a 9,98 €, o preço de referência apresentado na prova na Wine O’Clock para a colheita de 2011 vai para os 16,95 €! Aí já dá que pensar, porque estamos no patamar do Esporão Reserva... O mesmo se passa, aliás, com o Trincadeira 2011, também apresentado na mesma prova e com o mesmo preço. São os dois varietais que mais apresentam um carácter de Alentejo, embora me pareçam claramente inflacionados.

Finalmente, passámos ao Syrah 2008, também provado na Wine O’Clock com a colheita de 2011. E novamente a sensação repetiu-se nas duas ocasiões. Ao contrário dos grandes encómios do enólogo da casa, e ao contrário de alguns especialistas que apregoam o grande sucesso desta casta no Alentejo, este vinho pareceu-me, agora como antes na prova da Delidelux, linear, sem acidez, com pouca estrutura, chato... Poderia mesmo chamar-lhe uma verdadeira xaropada. E pelo preço que custa agora (o valor apresentado foi de 13,95 €), seguramente não voltarei a levá-lo para casa. Definitivamente, não é a referência para o Syrah em Portugal, apesar do grande sucesso do Incógnito que pôs o nome da casa nas bocas do mundo com base nesta casta. Mas essa será a excepção. Quando comparo este Syrah com o da Quinta do Monte d’Oiro, qualquer semelhança é mera coincidência.

Na Wine O’Clock pudemos ainda provar um Petit Verdot e um Homenagem a Hans Christian Andersen, também já provados na Delidelux, sendo o Petit Verdot o único verdadeiramente surpreendente e que promete um grande futuro em garrafa. Mas a 32,50 €, dificilmente entrarão na lista de compras, porque aqui estamos a falar de vinhos mais caros que o Quinta da Leda e o Duas Quintas Reserva...

Em resumo, o mercado manda, decide, e em função disso os produtores fazem os preços a que conseguem vender os seus vinhos. Mas há vinhos de certos produtores que me fazem lembrar aquela anedota que falava num restaurante de 2ª, com preços de 1ª e serviço de 3ª... É o que me parecem alguns dos novos produtores famosos do Alentejo...

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Alentejo (Vidigueira)
Produtor: Cortes de Cima

Vinho: Cortes de Cima 2008 (T)
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Syrah, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Petit Verdot
Preço em feira de vinhos: 8,94 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Cortes de Cima, Aragonês 2005 (T)
Grau alcoólico: 14,5%
Casta: Aragonês
Preço em feira de vinhos: 9,98 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Cortes de Cima, Syrah 2008 (T)
Grau alcoólico: 14%
Casta: Syrah
Preço em feira de vinhos: 10,61 €
Nota (0 a 10): 5

Comentários

Paulo Sousa disse…
Boa noite,

o vinho que se segue também não é mau.
http://www.wivini.com/index.php/cortes-de-cima-branco.html
a 9.13€ e já medalhado
Medalha de Ouro - Challenge International du Vin 2014Medalha de Prata - Vinalies Paris 2014