No Chafariz do Vinho - Prova de vinhos da Real Companhia Velha





Na passada semana tive a feliz oportunidade de receber um convite para estar presente no Chafariz do Vinho - Enoteca, propriedade de João Paulo Martins de que já aqui falámos algumas vezes, para uma prova alargada de vinhos da Real Companhia Velha, na qual esteve disponível um portefólio alargado composto por cerca de 30 vinhos, entre brancos, tintos, um rosé, um espumante e vinhos do Porto.

Entre enófilos, jornalistas e outros profissionais, enquanto se provava, conversava e se complementava a prova com alguns acepipes que estavam à disposição nas mesas, pude ir trocando impressões sobre os vinhos da empresa com dois dos representantes da casa: o director de enologia Jorge Moreira, cujo nome saltou para a ribalta pela sua produção em nome pessoal do famoso Poeira, e Pedro Silva Reis, director de marketing e filho do presidente da administração com o mesmo nome.

Correndo o risco de ter mais olhos que barriga, fui percorrendo os diversos brancos, a começar pelo espumante Séries, um lote de Pinot Noir e Chardonnay que não marcou muitos pontos entre os presentes, seguindo pelo branco Séries Arinto. Esta gama, como foi explicado, pretende funcionar como experiência para possíveis entradas de novas marcas na gama Quinta de Cidrô. Gostei do Arinto, mas parece que os homens fortes da casa não ficaram convencidos com ele... Depois passei pelos mais tradicionais e das gamas mais baixas, neste caso o Evel e o Porca de Murça Reserva, duas marcas com longa história na casa. O Evel fazendo jus à origem do seu nome (Leve escrito ao contrário), o Porca de Murça com alguma falta de aroma.

Seguiu-se então o périplo pelos monocasta da extensa gama da Quinta de Cidrô, até terminar no topo da casa, a mais recente marca produzida na Quinta de Carvalhas e chamado simplesmente Carvalhas. E começando já pelo fim, há que dizer que estamos perante um branco fantástico, de aromas finos e elegantes e simultaneamente estruturado, persistente, gastronómico, com muito ligeira tosta da madeira que lhe dá uma envolvência suave envolvência do conjunto. Claramente um branco de topo!

Percorrendo a gama Quinta de Cidrô, quase totalmente baseada em castas estrangeiras (a excepção é o Alvarinho), temos diversos perfis para diversos gostos, embora as diferenças, curiosamente, não sejam tão acentuadas como se poderia pensar. O que foge mais claramente ao perfil tendencialmente aromático, frutado, suave e pontuado por uma acidez vibrante da generalidade destes brancos é, precisamente, o Chardonnay. Sobre este vinho em particular tive uma troca de impressões mais demorada com os representantes da casa, devido à curiosidade que me movia após as longínquas impressões anteriores. Por um desses acasos em que a vida é fértil e que nos aparecem quando menos esperamos, no dia seguinte a esta prova pude degustar calmamente este vinho à refeição, e as poucas impressões colhidas na prova foram então “tiradas a limpo”, digamos assim, e confirmaram que está diferente do que era, embora continue a ser o vinho mais estruturado dentro da gama Quinta de Cidrô. Os restantes, são genericamente mais leves, aromáticos, frescos, recaindo a minha preferência no Alvarinho e no Sauvignon Blanc. Achei curioso o Sémillon, que precisa de uma prova mais demorada, enquanto o Gerwurztraminer me pareceu algo discreto de aromas.

Passei rapidamente pelo rosé, que já conhecia de outra ocasião e confirmou o que dele esperava, e passei ao piso de cima para provar os tintos, porque a tarde já ia longa e já muito se tinha provado, mas muito mais havia para provar.

De novo com a colecção da Quinta de Cidrô em destaque, uma referência particular para a suavidade do Pinot Noir e a estrutura do Cabernet Sauvignon. Interessante o Séries Rufete, expectáveis e sem surpresa os Evel e Porca de Murça, mas as estrelas foram sem dúvida as quatro novidades: o Evel Centenário, o Quinta dos Aciprestes Grande Reserva (o único representante desta marca presente) e, principalmente, o monocasta Carvalhas Tinta Francisca e o extraordinário Carvalhas Vinhas Velhas, para mim o vinho da noite. E foi o vinho da noite porque, após uma pequena passagem pelo colheita tardia Grandjó, retirei-me das lides: era altura de debandar e já não havia capacidade para fazer a prova dos Portos, pelo que deixei essa tarefa com os resistentes que conseguiram percorrer todo o portefólio...

Em jeito de balanço, pode dizer-se que a Real Companhia Velha está nova, de boa saúde e recomenda-se. Depois de muitos anos em que praticamente se limitava a comercializar vinhos do Porto mais o Evel, o Porca de Murça e o Grandjó, o aparecimento das marcas Quinta dos Aciprestes, Quinte de Cidrô e agora o lançamento do topo de gama Carvalhas vieram trazer um novo fôlego aos vinhos de mesa da casa, com mais notoriedade na gama de marcas que ocupam as prateleiras das superfícies comerciais e com uma vasta escolha à disposição do consumidor.

Parabéns aos administradores e enólogos da Real Companhia Velha pela imagem renovada da velha casa. Ficam também os agradecimentos à consultora em comunicação, e profissional de relações públicas, Joana Pratas, que tem tido a amabilidade de nos dirigir alguns convites que possibilitaram que estivéssemos presentes nalguns eventos para recordar.

Agora só nos resta ir provando o que for possível...

Kroniketas, enófilo esclarecido

Comentários