No meu copo 357 - Vinhos a caminho dos 10 anos (1): Tintos da Estremadura

Grand’Arte, Touriga Nacional 2003; Monte Judeu, Aragonês 2004; Quinta das Cerejeiras Reserva 2003; Quinta de São Francisco 2005




A par das relíquias que de vez em quando vamos desbastando em conjunto, com especial incidência nos tintos velhos do Dão e da Bairrada – e de que aqui vamos dando conta –, há alguns vinhos que vão ficando esquecidos na garrafeira. Não é a melhor ocasião, deixa-se para a próxima, olha-se para outros, e quando damos por nós há uma série de vinhos que estão rapidamente a caminhar para a dezena de anos.

Um risco? Um problema? Nunca sabemos até abrir as garrafas. Felizmente temos comprovado que, na maior parte dos casos, mesmo aqueles vinhos que à partida não estariam, em teoria, destinados a envelhecer, acabam por comportar-se excelentemente quando bebidos alguns anos após aquilo que lhes teríamos vaticinado como “prazo de validade expectável”. Acresce que na maioria dos casos se trata de vinhos provenientes de regiões que não são aquelas mais vocacionadas para a conservação de “vinhos velhos”, ou pelo menos não muito jovens.

Foi a olhar para vários desses casos que comecei a ir buscar à garrafeira alguns vinhos de 2003, 2004, 2005, que ainda por lá estão porque foram ficando para trás. Como estarão eles, pensei? Será que já estão em declínio? Estarão a morrer?

E foi assim que comecei a abrir garrafa após garrafa, indo buscar às várias regiões estes vinhos “esquecidos”, com alguma curiosidade sobre o que iria encontrar em cada um. Tentarei deixar aqui algumas impressões sobre o que fui encontrando. Neste caso vou centrar-me, para já, em vinhos de duas regiões vizinhas, Tejo (ex-Ribatejo) e Lisboa (ex-Estremadura), todos eles ainda rotulados com as denominações de origem antigas.

Comecemos pelos estremenhos.

- Grand’ Arte, Touriga Nacional 2003: equilibrado, estruturado, aromático e suave.

- Monte Judeu, Aragonês 2004: encorpado, estruturado, robusto e adstringente, mas com grande aroma, pontuado por frutos vermelhos maduros. Carnes bem temperadas serão boa companhia. Estagiou 3 meses em madeira. É um vinho que em novo apresenta taninos muito rijos, com grande adstringência e muito potente na boca. O tempo acaba por amansar-lhe bastante os taninos, embora perca alguma vivacidade. Embora seja um vinho que inicialmente se apresenta algo agressivo, feito o balanço acho que o prefiro mais novo, pois tem lá todas as características intactas, impressão que já tinha colhido aquando da prova anterior.

- Quinta das Cerejeiras Reserva 2003: cheio de pujança, profundidade aromática e persistência. Madeira muito bem integrada e amaciada pelo tempo. Um vinho para continuar a durar na garrafa.

- Quinta de São Francisco 2005: cor rubi, aroma frutado, sabor suave. Já passou o ponto, está em declínio, o aroma apresenta-se cansado e pouco exuberante.

Em jeito de balanço, em quatro garrafas três delas estavam em perfeito estado de conservação, sendo que curiosamente o único vinho em claro declínio era o mais novo, com 8 anos de idade. Portanto, o resultado não defraudou nem me deixou pessimista quanto ao futuro destes vinhos e ao estado dos próximos a consumir.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Grand’ Arte, Touriga Nacional 2003 (T)
Região: Lisboa (Alenquer)
Produtor: DFJ Vinhos
Grau alcoólico: 14%
Casta: Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 5,75 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Monte Judeu, Aragonês 2004 (T)
Região: Lisboa (Torres Vedras)
Produtor: Adega Cooperativa de Dois Portos
Grau alcoólico: 14%
Casta: Aragonês
Preço: cerca de 9 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Quinta das Cerejeiras Reserva 2003 (T)
Região: Lisboa (Óbidos)
Produtor: Companhia Agrícola do Sanguinhal
Grau alcoólico: 14%
Castas: Castelão, Aragonês, Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 11,95 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Quinta de São Francisco 2005 (T)
Região: Lisboa (Óbidos)
Produtor: Companhia Agrícola do Sanguinhal
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Castelão, Aragonês, Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 4,75 €
Nota (0 a 10): 5

Comentários