Na minha mesa 278 - Os quatro cavaleiros da barriga cheia – Surtida ao Esporão



Num belo dia de Primavera resolvemos demandar, quais cavaleiros em corcel a diesel, a Herdade do Esporão, alapada nos arredores de Reguengos de Monsaraz. Apesar de não ser uma première para os membros do núcleo duro do grupo gastrónomo-etilista, era a primeira vez que lá nos dirigíamos em conjunto e com intuitos mais sólidos do que líquidos – ou seja, além dos néctares locais pretendia experimentar-se a cozinha do restaurante da Herdade e confirmar as coisas boas que sobre ele tínhamos lido e ouvido.

Saídos manhã cedo (mas não muito cedo) da capital do reino, num sábado de luz primaveril perdido no meio do frio deste Inverno bizarro, e em poucos minutos já circulávamos na sempre apinhada A6 (isto era uma piada) em direcção a Évora, tomando depois a direcção de Reguengos pela estrada nacional e conseguindo não nos perdermos nas inúmeras e mal sinalizadas rotundas que apanhámos pelo caminho. Passado o centro de Reguengos lá seguimos a estrada que levava à Herdade, com alguns pitorescos buracos a adornar o trajecto, e acabámos direitinhos em frente ao edifício que alberga a parte enoturística e sobrejaz às adegas.

O programa previsto era almoçarmos, visitar o complexo após o almoço e fazer uma prova ao fim da tarde, antes do regresso à base. Mas como o corcel foi rápido no trajecto ainda deu para cirandar pelas redondezas do edifício antes do almoço, visto que a mesa estava marcada. Além da constatação de que estávamos mesmo no campo – devido aos insectos que por ali andavam – e de que as formigas alentejanas trabalham tanto como as outras, um vazio no estômago lá nos convenceu de que era hora de entrar no restaurativo estabelecimento e nos amesendarmos. O espaço é agradável, com bastante luz e decoração simples, que no campo é mais importante o que se é do que o que se parece. O serviço mostrou-se desde o início solícito sem ser aborrecido e completamente informado – um bom exemplo para as misérias que se vão vendo por restaurantes em todo o país – não basta ostentar pergaminhos, há que demonstrá-los!

Analisada a ementa nas suas diversas possibilidades optámos pelo denominado almoço vínico, que nos permitiria provar uma panóplia alargada dos vinhos da casa sem a obrigatoriedade de ter de beber uma garrafa de cada – pronto, não é que não conseguíssemos, mas ninguém estava ali para apanhar fémeas de canídeo, vulgo cadelas.

A opção revelou-se mais que acertada! A ementa casou extremamente bem com os vinhos que a acompanharam e estes não faltaram enquanto foram precisos.

Mas conheçamos então o elenco: abertura com azeites para degustar e entradas variadas acompanhadas por um espumante rosé que vai na terceira produção e promete.

Seguiu-se a sopa, um creme de ervilhas bem sápido, adornado com um caramelizado e um ovo de codorniz escalfado, monocasta Verdelho a acompanhar, rico em aroma e sabor, a ressumar frescura e tropicalidade.

Veio depois o prato de peixe, bacalhau cozido a baixa temperatura em duo com batatas gratinadas, bem acolitado por um Esporão Reserva Branco, competente e de belos alicerces, vinho que se baterá bem até com alguns pratos mais dos lados da carniça.

O prato de carne mereceu os melhores encómios, duas peças de Assado do Esporão, carne de vaca confeccionada em vácuo e adornada com uma redução de vinho tinto, que ligou muito bem com o Esporão Reserva Tinto, desde 2006 regressado aos seus melhores tempos. O Kroniketas optou por um arroz de Lebre também provado pelos outros confrades e que convenceu mesmo os menos dados a mimos de perdigueiro, como aqui o escrevente.

Em tempo de sobremesa, e perante a nossa descoroçoante indecisão, veio um pijama com as várias ofertas dulçarengas, humidificadas pelo licoroso produzido pela empresa e que também esteve à altura das lides, doce sem ser enjoativo e servido fresco sem estar gelado.

Acreditem que nesta altura estávamos como o título deste post afirma. O período de fermentação foi realizado no alpendre junto ao restaurante, com alguns membros a aventurarem-se nos fumos. Não sendo a vontade nenhuma, lá nos movemos com dificuldade para iniciar a visita às instalações, esforço não dispiciendo – se duvidar basta realizar um programa idêntico.

Visitaram-se as diversas instalações da adega, das zonas de produção e engarrafamento aos salões (acho que o epíteto é merecido) onde estagiam os vinhos, após o que se realizou uma prova única do monocasta Petit Verdot, que a tarde ia longa e era necessário conduzir de volta à capital. Vinho vibrante tanto na cor como na boca, a convidar à permanência em caves escuras durante algum tempo até estar mais domesticado, cheio de boas promessas para os mais pacientes.
(De salientar a dissidência de um dos membros, que preferiu ficar no bar a apreciar uma aguardente velha e só se nos juntou para a prova, o bandalho!)

A viagem de regresso não teve história, como todas as viagens de regresso, apesar das conversas interessantes que não cabem neste naco de texto e da música ouvida e que não é para aqui chamada.

Veredicto final e unânime: a voltar sempre que possível (mas comedidamente, porque não fica barato) – pelos vinhos, pela comida e pela qualidade do serviço, eficiente e simples, como nós gostamos.

tuguinho, enófilo e tudo (acolitado pelo resto da cambada)

Herdade do Esporão
Apartado 31
7200-999 Reguengos de Monsaraz
Tel: 266.509.280
Fax: 266.519.753

Nota Restaurante (0 a 5): 5

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