No meu copo 904 - Cabriolet tinto 2017

Não é preciso inventar a roda...

Susana Esteban nasceu em Tui, Espanha. É licenciada em Ciências Químicas pela Universidade de Santiago de Compostela e Mestre em Viticultura e Enologia pela Universidade de La Rioja. Começou a sua trajectória como enóloga em 1999, na Quinta do Côtto, tendo trabalhado posteriormente como enóloga na Quita do Crasto entre os anos 2002 e 2007. Tem trabalhado desde a vindima de 2007 como consultora em diferentes produtores do Alentejo, nomeadamente Tiago Cabaço Wines, Herdade do Barrocal, Monte dos Cabaços e Monte da Raposinha.

Durante este percurso o seu trabalho tem sido reconhecido tanto a nível nacional como internacional. Em 2012 foi-lhe atribuído o prémio mais prestigiado que um enólogo pode receber em Portugal, o título de “Enólogo do Ano”, pela Revista de Vinhos, tendo sido até a data a única mulher a que foi atribuído está distinção.

No final do ano 2009 Susana Esteban decidiu dar início ao seu projecto pessoal com o objectivo de fazer vinhos com um carácter diferente do Alentejo tradicional. Durante dois anos Susana Esteban andou à Procura em todo o Alentejo pelas vinhas óptimas para fazer os seus vinhos. Só em 2011 conseguiu finalmente encontrar duas parcelas de vinhas diferentes e de personalidades bem distintas: numa das parcelas encontrou uma vinha de Alicante Bouschet de baixíssima produção plantado em solos xistosos, situada perto de Évora e com um clima óptimo para a boa maturação da casta. Em Portalegre encontrou uma vinha tradicional plantada numa zona muito mais fresca que o resto do território do Alentejo. Uma vinha misturada que reúne um conjunto alargado de castas tradicionais de produção baixíssima que acrescenta uma frescura e complexidade pouco habituais. Da combinação destas duas parcelas nasceu um vinho único e extraordinário, o “Procura”.

Em 2012, depois de encontrar várias outras parcelas de vinha com características ideais para o seu projecto, decidiu elaborar o “Aventura”, um vinho sem madeira e com uma frescura e carácter acentuados.

Em 2013 decidiu avançar com a elaboração de dois brancos. As uvas do “Procura branco” provêem de uma vinha velha de 80 anos com mistura de castas, uma vinha única e excepcional situada na Serra de São Mamede, em Portalegre.

Para o “Aventura branco” utilizou uvas procedentes de uma vinha tradicional de Portalegre, com castas misturadas, loteadas com uma vinha de Estremoz cuja variedade principal é a casta Arinto.

Em Janeiro de 2016 foi-lhe atribuído o prémio “Produtor Revelação do Ano 2015” pela prestigiada revista “Wine - A Essência do Vinho”, pelo enorme sucesso atingido com os vinhos produzidos, quer a nível nacional como internacional.

Além dos vinhos Alentejanos elaborados na sua adega situada na vila de Mora, Susana Esteban estabeleceu em 2011 uma sociedade com a sua amiga, e igualmente enóloga, Sandra Tavares, para elaborarem vinho em parceria. O primeiro fruto desta parceria tomou o nome “Crochet”, um vinho do Douro que é elaborado no Pinhão. Com início na colheita 2014 o “Crochet” será acompanhado por um irmão alentejano, igualmente tinto, que se irá chamar “Tricot”, produzido em Mora.


Este é o perfil de Susana Esteban disponível no site da produtora do vinho de que aqui se fala: um monocasta de Touriga Nacional produzido na região de Portalegre. A questão que se coloca é aquela com que comecei este post. É preciso reinventar a roda?

Não, a roda já foi inventada, algures pelo quarto milénio antes de Cristo...

É preciso redescobrir o fogo? Não, o fogo já foi descoberto há cerca de 1700 milhões de anos...

E será preciso voltar a descobrir a pólvora? Não, a pólvora foi descoberta por volta do século IX da nossa era.

Então... para quê estar a inventar outra vez?

É o que este vinho me sugere. Parece que se quis inventar a roda, descobrir o fogo e a pólvora. Na realidade, se algo me surpreendeu neste Cabriolet 2017 foi o facto de não ter nada de surpreendente. Não lhe descortinei nenhuma característica verdadeiramente atractiva ou inovadora, nada que a Touriga Nacional traga de novo e também não lhe descortinei um carácter alentejano.

Fico, portanto, a perguntar a mim mesmo o que é que se pretendia alcançar com este vinho. A roda, o fogo, a pólvora?

Fazia falta? Não creio.

Traz alguma coisa de novo ou de surpreendente? Não me parece.

É especialmente bom? Não particularmente.

Marca a diferença de modo evidente? Dificilmente.

Se me vou lembrar dele? Provavelmente não. A memória mais viva que guardo é de estar à mesa com o vinho a acompanhar uma refeição, pousar o copo e abanar a cabeça... Talvez por causa daquilo que paguei por ele...

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Cabriolet 2017 (T)
Região: Alentejo (Portalegre)
Produtor: Susana Esteban
Grau alcoólico: 14,7%
Casta: Touriga Nacional
Preço: 24,25 €
Nota (0 a 10): 6


Vídeo em https://youtu.be/UVqCgYls-Q4

Foto da garrafa obtida através de motor de busca

Comentários

Unknown disse…
Acabo de abrir a garrafa e vou a Google. Encontro este artigo, e resulta que concordo absolutamente!