Na Wine O’Clock 14 - Herdade dos Coelheiros


Mais uma prova a que não se podia faltar. Contando com a presença do enólogo António Saramago, autor de vinhos em diversas zonas do Alentejo e também na Península de Setúbal, tivemos oportunidade de conhecer a história recente da herdade no que se refere à produção de vinho, que começou apenas por ser destinada a acompanhar os petiscos que eram realizados com a caça da herdade... Até que os proprietários resolveram dar o salto em frente e começar a produzir “a sério” com a marca Tapada de Coelheiros a partir de 1991.

Como explicou António Saramago, desde o início tentou-se produzir vinho em estilo bordalês, e para isso apostou-se em castas francesas para compor os lotes com as castas alentejanas mais típicas. Assim temos a presença dominante do Cabernet Sauvignon nos tintos e do Chardonnay para os brancos. Provaram-se exemplares desde a marca principal a monocastas e garrafeiras, passando pelo Branca de Almeida e pela gama de entrada.

A gama intermédia da casa, o Vinha da Tapada, última a ser lançada de modo a poder competir num mercado de maior volume, no caso do tinto tem o Syrah a compor o lote com as muito típicas Aragonês e Trincadeira, e estagia 6 meses em madeira. É um vinho relativamente fácil que não vai além do que se espera para o sector em que se posiciona.

Quando se entra na marca principal da casa, o caso já muda de figura. De modo geral são vinhos com uma boa estrutura na boca e complexidade aromática e gustativa, que não são devidamente apreciados numa prova de tão carácter imediato como esta, pois precisam de tempo para se mostrar no copo, libertar os aromas, e sem dúvida pedem comida a acompanhar.

O Tapada de Coelheiros branco junta o Chardonnay (20% fermentado em madeira) ao Arinto e ao Roupeiro, havendo também o Chardonnay em versão monocasta, mais estruturado e pesado, mas que adquire aquele amanteigado que habitualmente me desagrada neste tipo de vinho. É um estilo assumido pelos enólogos, mas que não me convence.

O Tapada de Coelheiros tinto também existe em diversas versões, num com o Cabernet Sauvignon a emparceirar com as clássicas Aragonês e Trincadeira, em versão Garrafeira em que a Trincadeira não está presente, e ainda numa versão a solo do Petit Verdot, complementada com uma outra só de Syrah. A versão clássica, chamemos-lhe assim, é mais frutada, sem deixar de ser marcadamente estruturada e complexa, sendo o Garrafeira um pouco mais contido no início, com os aromas ainda aprisionados. Precisa de mais tempo no copo para soltar a marca deixada por 18 meses em barrica.

No caso do Branca de Almeida, feito num lote com Merlot (a outra casta típica bordalesa) a acompanhar Trincadeira e Alicante Bouschet, foi o que menos me agradou, mostrando-se talvez demasiado vegetal. Já não me tinha agradado particularmente no evento Vinhos do Alentejo em Lisboa...

Em suma, não vale a pena pensar nestes vinhos para refeições rápidas e leves nem continuar a elucubrar a partir de uma prova de curta duração, perante esta variedade. São vinhos que pesam no bolso, por isso é melhor pensar primeiro quanto se está disposto a pagar, porque estamos na casa dos 10 € para cima, chegando perto dos 40 € no caso do Garrafeira. Mas que merecem a prova, merecem.

Kroniketas, enófilo esclarecido

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