Vinhos do Alentejo em Lisboa 2012



Decorreu no passado fim-de-semana na Fundação Champalimaud a 4ª edição do certame Vinhos do Alentejo em Lisboa. À falta de mais quorum (os outros bandalhos baldaram-se todos), desloquei-me sozinho ao fim da tarde para fazer uma ronda pelo espaço.

Comecei por percorrer o recinto dos expositores, bastante acanhado para o número de stands e visitantes presentes, de tal forma que quando de lá saí, já bem dentro da hora de jantar, tornava-se difícil circular pelos corredores. A dimensão do espaço será um aspecto importante a rever em futuras edições.

Contrariamente ao que costuma acontecer em eventos semelhantes, ainda sem copo na mão percorri todos os stands com o objectivo de, digamos assim, identificar o terreno e apontar os alvos, ou seja, os vinhos a provar. Assim, quando me dirigi à entrada para adquirir o copo de prova já tinha mais ou menos planeada a volta que iria dar, até porque a permanência não poderia ser tão longa quanto é habitual: desta vez ficou-se por cerca de 2 horas.

A verdade é que o método pareceu resultar e, desta forma, em vez de cirandar por lá de modo aleatório e sem saber o que ia provar a seguir, fui percorrendo os stands sem ordem previamente definida mas sabendo onde queria ir e que vinhos pretendia provar.

Como o tempo era escasso e era necessário voltar para casa em condições de conduzir, optei por seleccionar essencialmente algumas marcas de topo de produtores de referência entre o que estava disponível. A execepção foi o Esporão, por onde comecei, e onde provei quase tudo o que lá estava, entre branco, tinto e rosé. A verdade é que o Reserva tinto nunca desilude, o Private Selection mostrou porque é que a colheita de 2009 recebeu 18 pontos na edição deste mês da Revista de Vinhos e o Vinha da Defesa rosé está mais gastronómico, enquanto o tinto tem uma excelente relação qualidade/preço. O Verdelho e o Duas Castas cotam-se como excelentes apostas nos brancos. Nos varietais só provei o Alicante Bouschet, bem estruturado e equilibrado.

Outros vinhos provados:
- Reserva do Comendador (Adega Mayor)
- T Quinta da Terrguem e Quinta do Carmo Reserva (Aliança/Bacalhôa)
- Cortes de Cima, Trincadeira (Cortes de Cima)
- Baron de B e Caladessa (Herdade da Calada)
- Herdade das Servas Reserva (Herdade das Servas)
- Herdade do Peso Reserva (Herdade do Peso/Sogrape)
- Tapada de Coelheiros e Branca de Almeida (Herdade de Coelheiros)
- Quinta da Viçosa, Syrah-Trincadeira (João Portugal Ramos)
- Cem Reis (Herdade da Maroteira)
- Quinta do Mouro (Miguel Viegas Louro)
- Julian Reynolds Reserva (Reynolds Wine Growers)
- Monsaraz Millennium e Monsaraz Premium (Carmim)


Dum modo geral a qualidade dos vinhos foi excelente, aparecendo vários exemplares de vinhos com 4, 5 e 6 anos de idade a revelarem uma frescura e ainda sinais de juventude notáveis, coisa que há poucos anos dificilmente acontecia, e tive oportunidade de referi-lo em curtas trocas de impressões nalguns stands. O avanço das práticas enológicas é, certamente, bastante responsável por este novo panorama.

Mas o mais interessante, para mim, deste conjunto de provas foi a percepção da diferença de estilos entre os alentejanos clássicos e os alentejanos modernos. Provando alguns dos vinhos e olhando para a sua composição foi fácil perceber o que diferencia os vinhos em que são utilizadas preferencialmente as castas tradicionais (Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet a que por vezes se junta o Cabernet Sauvignon) daqueles em que se opta pelas castas modernas e de outras regiões para fazer vinhos mais ao estilo “novo mundo” (Syrah, Merlot, Touriga Nacional, Touriga Franca). É um facto que muitos produtores vão à procura de vinhos mais fáceis de beber e mais frutados, mas tal como acontece noutras regiões – como a Bairrada, em que antes quase só se usava Baga e agora usa-se quase tudo – isso contribui grandemente para descaracterizar os vinhos da região e pouco ou nada de novo acrescenta ao que já existe, tornando-os todos iguais ou parecidos.

Um exemplo flagrante desta diferença pude constatá-lo no stand da Herdade de Coelheiros, na prova do Tapada de Coelheiros e do Branca de Almeida. Enquanto o primeiro contém Aragonês, Trincadeira e Cabernet Sauvignon, o segundo contém Merlot, Trincadeira e Alicante Bouschet. A verdade é que os estilos são completamente diferentes e o segundo não me agradou. Na maior parte dos casos (Esporão Reserva e Private Selection, Reserva do Comendador, Quinta do Mouro, Herdade do Peso, Barón de B, Caladessa, T Quinta da Terrguem), a conclusão clara foi que os tintos alentejanos com perfil clássico me agradam muito mais e são os verdadeiros representantes da região.

Felizmente que dentro deste perfil continua a haver muito e muito bom, existindo bastantes produtores que continuam a apostar nele, porque, tal como eu, ainda há consumidores que o preferem.

Kroniketas, enófilo esclarecido

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