Masterclass Arinto - Quinta das Carrafouchas



Quinta das Carrafouchas, localizada ao pé de Loures, na região demarcada de Bucelas.

Algures no tempo, numa Primavera recente, tive oportunidade de ali me deslocar, às portas de Lisboa, onde pude conhecer o enólogo Hugo Mendes, produtor recente dos vinhos HM Lisboa que têm merecido rasgados elogios da crítica especializada.

O evento foi organizado pela Emília Freire e contou com a presença de vários enófilos que conheço destas andanças por provas e blogues, e pretendeu-se conhecer uma gama alargada de vinhos à base de Arinto, com destaque para os elaborados na sua região de excelência.

Ao longo da tarde foi possível provar diversos petiscos com diferentes vinhos que nos mostraram as várias facetas que o Arinto pode ter. Provaram-se vinhos, literalmente, desde o Minho (Covela - Edição Nacional) ao Algarve (Cabrita - Native Grapes).

Mais do que a descrição dos vinhos, que num evento desta natureza tem pouca relevância, a parte mais interessante é a percepção de como a casta de comporta em função do terroir e dos métodos de vinificação.

Há características que são dominantes, naturalmente sempre presentes. Em qualquer região, o Arinto funciona, de modo praticamente universal, como casta melhoradora.
A acidez está sempre presente e traz vivacidade para onde por vezes ela falta. As notas cítricas e minerais, tanto no aroma como no sabor, são outras características que aparecem de forma mais ou menos universal.

Por outro lado, percebe-se que são vinhos que resistem bem ao tempo. Alguns anos de envelhecimento em garrafa não tiram personalidade à casta, pelo contrário. A este propósito, Hugo Mendes referiu até o modo como o envelhecimento dos vinhos é referido noutros países: growing em Inglaterra, élevage em França, crianza em Espanha, o que significa que consideram que os vinhos estão a crescer enquanto envelhecem.

Também esse aspecto foi visível nos espumantes provados, um Quinta da Murta 2013 (11,5%), de Bucelas, e um Vale das Areias 2014 (12%), um regional Lisboa produzido na Labrugeira. A acidez é sempre um factor importante nos espumantes, e neste caso tornou-se bem evidente. Também o grau alcoólico é relevante, pois os vinhos produzidos têm predominantemente um grau moderado, longe de outros vinhos pesadões e enjoativos. E mesmo quando o álcool sobe, o vinho mantém a personalidade graças à sua acidez.

A relação com a madeira, como acontece dum modo geral com os brancos, tem de ser gerida com pinças, e talvez neste caso ainda mais. Um excelente exemplo é o Morgado de Sta. Catherina, da Quinta da Romeira, que atinge os 14º de álcool (o mais alcoólico em prova) e que no entanto consegue manter um registo muito vivo, com uma explosão de aromas e sabores a que se junta um volume de boca adicional que lhe é dado pelas notas de madeira.

Poderíamos juntar outro tanto texto ao que já está escrito para exaltar as qualidades do Arinto, mas a sua universalidade no país fala por si. A parte mais interessante desta prova, mais do que descobrir novidades, foi mesmo passar pelas várias nuances que os vinhos vão adquirindo. E a certeza de que é uma casta que se comporta bem em qualquer local, que dada a sua versatilidade não perde o seu ADN quando muda de região.

Obrigado à equipa da Quinta das Carrafouchas por nos ter recebido, ao Hugo Mendes pela aula e à Emília Freire pela organização.

Kroniketas, enófilo esclarecido

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