No meu copo, na minha mesa 348 - Jantar no Jacinto com vinhos franceses

   
   
   
 

Este evento decorreu no mesmo dia do início do Encontro com o Vinho e os Sabores 2013. Tudo aconteceu de forma inesperada, após ter recebido um e-mail, proveniente dum velho conhecido ligado ao sector do vinho, com um convite para um jantar com provas comentadas de champanhe. Embora já tivesse planos para esse dia, que em parte continham uma primeira passagem pelo Encontro com o Vinho, pareceu-me que a proposta era demasiado aliciante para declinar, tendo em conta que não havia custos envolvidos.

Dito isto mudei de planos e, após a confirmação de local e horas, saí mais cedo do Centro de Congressos de Lisboa e dirigi-me a Telheiras para estar no Jacinto por volta das 21 horas. O que aconteceu, no entanto, foi que a quase totalidade dos participantes estavam no Encontro com o Vinho e foram chegando a conta-gotas, de tal forma que pelas 22 horas ainda não estávamos à mesa. Enquanto se esperava, foi-nos servido um copo de champanhe Deutz para ir passando o tempo.

Só quando toda a gente estava à mesa e foram feitas as apresentações do que se iria passar fiquei a saber que o evento era promovido pela distribuidora Mister Wine e que em vez de um produtor de champanhe iríamos ter na sala os representantes de não 1, não 2, não 3, mas 4 produtores franceses: Deutz (da região de Champagne), Delas Frères (Côtes-du-Rhone), Michel Laroche (Chablis) e Pascal Jolivet (Loire). Conversa puxa conversa, um contacto leva a outro, um é convidado para apresentar os seus vinhos e há outro que entra na conversa, e assim em vez de apenas champanhe iríamos ter também vinho branco, tinto e doce. Um verdadeiro desfile de néctares de excepção à nossa espera! E só à medida que fui identificando os presentes, quase todos ligados ao sector do vinho (jornalistas e/ou enólogos e /ou produtores, representantes da Revista de Vinhos, jornal “I”, Exame) é que me apercebi de como era um privilegiado por estar ali, eu, um mero amador que escreve num blog e de vez em quando vai conhecendo as pessoas do meio numas provas aqui e ali...

A condução das operações foi feita por José Carneiro Pinto, ligado à Quinta do Oritgão, que apresentou os representantes dos produtores presentes e anunciou o que se iria beber ao longo da refeição. Tudo em inglês, para que toda a gente percebesse...

E assim foram desfilando os pratos e os vinhos, quase todos em garrafas magnum, começando pelo champanhe Deutz Brut Classic, composto pelas castas Pinot Noir (que dá volume de boca e corpo ao vinho), Pinot Meunier e Chardonnay em partes iguais (portanto um misto de brancas e tintas, como é típico da região). Bolha fina, muito elegante, persistente (Nota: 8,5).

A partir daqui tivemos os vinhos apresentados aos pares para acompanhar cada prato. Começámos com um prato de cogumelos recheados, ovos com farinheira e queijo de cabra com mel, tudo muito bem temperado e apaladado, com os sabores muito suaves a casarem muito bem com os vinhos.

Fui debicando de cada um alternadamente, acompanhando com um branco de Pascal Jolivet, Clos du Roy 2012, da região de Sancerre. Excelente acidez, macio e persistente, com boa estrutura (Nota: 8,5). A emparelhar, um Domaine Laroche, Saint Martin 2011, de Chablis (Borgonha). Mais doce e menos estruturado que o anterior, dois perfis bastante diferentes (Nota: 8).

Passámos então à pièce de résistance, com dois pratos. Primeiro veio um polvo de cebolada que depois foi ao forno, bastante suculento, bem temperado e apetitoso. Para acompanhar, novamente um vinho de Sancerre e um de Chablis, tal como na parelha anterior. Pascal Jolivet Les Caillottes 2001, suave, aromático e profundo (Nota: 9). Infelizmente perdeu na comparação com o parceiro que veio ao mesmo tempo, para mim o vinho da noite: um Chablis Premier Cru (o segundo nível de topo, apenas abaixo dos Grand Cru) Domaine Laroche Les Vaudevey 2006, 100% Chardonnay. Grande corpo, grande estrutura, aroma interminável, tudo pontuado por uma finesse notável e uma elegância soberba. Grande, grande vinho, um autêntico néctar dos deuses que nos ajuda a perceber o porquê da fama dos brancos franceses, e dos da Borgonha em particular! E que diferença em relação aos Chardonnay feitos em Portugal, carregados de madeira, pesados, amanteigados, enjoativos... No fim, como recordação, levei para casa a garrafa de 1,5 L deste vinho sublime! (Nota: 10)

Seguiu-se outro prato de resistência, uma empada de pato com salada de alface, também excelentemente temperada. Para acompanhar, um champanhe e um tinto. Champagne Deutz Brut 2006: mousse suave, fino, elegante, excepcional! (Nota: 10). A fazer parceria, o único tinto da noite: Marquise de La Tourette Delas 1999, da região de Hermitage (Côtes-du-Rhone), 100% Syrah ou não esitvessemos no berço da casta. Um vinho que se impõe pela suavidade e elegância, típica dos tintos daquela região, marcando a diferença em relação às bombas de fruta e álcool com que vamos levando por cá na última década. (Nota: 8,5)

Para as sobremesas ainda tivemos direito a mais um duo de pratos. Primeiro um folhado de morangos com natas, acompanhado com um Champanhe Deutz rosé. Elegante, suave e aromático, corpo médio. (Nota: 8).

Finalmente, uma trilogia de doces conventuais, encharcada, fidalgo e sericaia (qual deles o melhor), acompanhados por mais um duo de vinhos. O famoso Sauternes, porventura o branco doce mais emblemático do planeta, um Château Doisy Daëne 2005 (Nota: 8,5) e mais um champanhe: Cuvée William Deutz Millésime 1999, muito seco, elegante e equilibrado. (Nota: 9)

Foi um fecho em beleza para um repasto excepcional e inolvidável, com pratos de alto nível e vinhos de excepção. Lá pela 1:30 da manhã finalmente abandonei o local, ainda restando alguns minutos de convívio entre os mais resistentes, que foram ficando até ao fim.

Só me resta agradecer o convite que em boa hora me foi dirigido pelo meu amigo José Carneiro Pinto e à Mister Wine por ter organizado este magnífico jantar. Também ao restaurante Jacinto, com uma confecção, um serviço de refeição e de vinhos irrepreensível. Depois de alguma crise atravessada na década de 1980, o Jacinto renasceu em grande e tem sido palco de alguns jantares de grande nível, cotando-se como um dos locais de eleição para jantares vínicos na cidade de Lisboa  nos últimos anos já tinha lá participado num jantar da Niepoort (1ª parte e 2ª parte) e num da Dão Sul. E finalmente aos produtores que disponibilizaram os seus fantásticos vinhos e me permitiram pela primeira vez provar e degustar um painel de vinhos franceses sublimes.

Foi mais uma noite para recordar no restaurante Jacinto. Parabéns a todos.

Kroniketas, enófilo embevecido

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