“Guerra” de garrafeiras em Lisboa?

 

Ontem aconteceu uma coisa verdadeiramente inusitada e insólita na capital: foram anunciadas para o mesmo dia e praticamente à mesma hora, em dois locais diferentes, provas de vinho com a presença do mesmo enólogo, no caso Anselmo Mendes. A Wine O’Clock anunciara desde o dia 5 a presença do enólogo na sua loja de Lisboa no dia 11, e na véspera a Delidelux fazia o mesmo anúncio.

Perante o insólito da situação, contactei por e-mail as duas lojas, tendo-me sido garantido (por ambas!!!) que Anselmo Mendes estaria presente em ambas as provas... Como em princípio o senhor não tem o dom da ubiquidade, presumi que ou ele andaria a saltitar entre as Amoreiras e Santa Apolónia (um DeLorean voador como no “Regresso ao futuro” daria muito jeito para a ocasião...) ou então alguém estava a meter água (no vinho) à força toda, ou então alguém andaria a beber fora de tempo para fazer este tipo de anúncios.

Tive o cuidado de reconfirmar com ambas as lojas e da Wine O’Clock voltou a ser-me garantido que Anselmo Mendes estaria na prova. Como de facto esteve, tal como se vê na foto. Ficou depois a saber-se que na Delidelux estaria, à mesma hora, um outro enólogo residente da empresa de Anselmo Mendes, mas não o próprio.

Como não podia deixar de ser, alguém se enganou em toda a linha. Para além da desinformação que isto encerra, acontece também que, à mesma hora, decorriam noutros locais mais 3 provas de vinho: na Hills Bottled, na Avenida Elias Garcia (perto da Néctar das Avenidas), uma prova da Quinta dos Tourais; na Garrafeira de Santos, na Rua de Santos-o-velho, uma prova de Serros da Mina; e na GN Cellar (as novas instalações da Garrafeira Nacional na Rua da Conceição, na baixa lisboeta) um prova de vinhos da Enoport (que engloba entre outros os vinhos das antigas Caves Velhas). E ainda não há muito tempo Luis Pato apresentava os seus novos vinhos nas Coisas do Arco do Vinho ao mesmo tempo que a Delidelux apresentava os de Rui Reguinga...

Perante este panorama completamente ilógico e desconchavado, uma dúvida me assalta: será que estamos a ter uma “guerra” de garrafeiras em Lisboa, em que tentam tirar público umas às outras e estragar o negócio mutuamente? É que se não é isso que se passa, começa a parecer que é. Se é esse o objectivo, é bom que os responsáveis tenham consciência de que estão a dar um enorme tiro nos respectivos pés, porque ninguém fica a ganhar: o público interessado porque não pode estar em vários locais ao mesmo tempo, e as próprias lojas porque perdem frequência, dada a dispersão a que isto obriga. Em casos muito excepcionais, pode haver quem se disponha a ir de uma garrafeira a outra (já o fiz entre a GN Cellar e a Delidelux por haver um desfasamento de horário e serem relativamente perto), mas por sistema o que vão conseguir é estragar o negócio que interessa a todos.

Pessoalmente, como visitante interessado e cliente que vai comprando de vez em quando, não me apetece nada estar a ser bombardeado com informação incorrecta, por um lado, e principalmente considero uma enorme falta de visão estratégica não aproveitar o calendário para distribuir as provas de modo mais espaçado ao longo da semana. Neste aspecto, a Delidelux tem-se mantido fiel ao horário, pois as provas são sempre à 5ª feira a partir das 19, mas os outros vão mudando de dia, tanto se faz à 3ª, como à 4ª ou à 6ª... Durante meses a Garrafeira Nacional fazia as provas à 4ª feira, agora mudou para a 5ª. E agora nem sequer há jogos de futebol a atrapalhar...

Era bom que se entendessem e até que falassem, e estabelecer uma estratégia de cooperação, porque (até ver) há lugar para todos (senão não surgiriam novas lojas a cada passo) e estar a tentar tirar público uns aos outros prejudica principalmente os próprios. Não sei se é o caso ou se é apenas distracção, ou simplesmente desinteresse pelo que andam a fazer os parceiros do mesmo negócio. Mas podiam pôr os olhos na colaboração que alguns produtores estabelecem para serem mais fortes em vez de se digladiarem e seguir-lhes o exemplo.

E, principalmente, não tentem brincar com o consumidor, porque este, normalmente, quando é enganado só se deixa enganar uma vez. Portanto não nos tentem impingir informação errada, porque isso vai ter um efeito de bumerangue.

Kroniketas, enófilo desinformado

PS: É verdade, de facto houve a prova do Muros Antigos Loureiro, do Muros Antigos Alvarinho, do Muros de Melgaço Alvarinho (de 2009 e de 2006) e a apresentação do verde tinto, ainda sem rótulo, que se vai chamar Pardusco, e é assim uma espécie de clarete. Quanto aos verdes brancos, o que dizer? Todos excelentes, como é sobejamente conhecido. Nem outra coisa seria de esperar.

Comentários

Unknown disse…
De facto concordo que parece ser mau para todas as lojas, se ainda fossem todas às sextas, por exemplo, podia existir a desculpa de fazer mais sentido devido ao fim-de-semana, mas nos restantes dias da semana não vejo justificação, creio ser melhor para todos, lojas e clientes, se existir uma distribuição mais razoável.
L. disse…
já reparei nisto há algum tempo. chega a haver 4 em simultâneo. quase sempre sao entre 5ª e 6ª. muito poucas vezes, lá aparece algo numa 3ª ou 4ª, e não vejo porquê. mesmo a 2ª feira, não há de ter provas porquê?

perdem todos. produtores, enófilos, consumidores, garrafeiras.
L. disse…
claro que não tenho interesse nem disponibilidade para estar em todas. mas muitas vezes tem acontecido haver duas simultâneas daquelas que não queria perder.
Krónikas Tugas disse…
Obviamente. E se por acaso alguém nas garrafeiras está a pensar que vai ganhar alguma coisa, vai ter uma grande decepção...