Na Delidelux 2 - Herdade da Malhadinha Nova


Outro dia, outro comparsa, outra prova, o mesmo local. A Delidelux, mercearia-charcutaria-garrafeira – tudo no mesmo espaço físico – com prateleiras bem preenchidas com vinhos de gabarito, produtos gourmet nacionais e estrangeiros e esplanada a poucos metros da água. Um local aprazível à beira-Tejo, junto ao cais de embarque de cruzeiros frente a Santa Apolónia, a convidar a um remanso de fim de tarde nestes dias temperados de primavera que se vai mostrando timidamente, na companhia dum cálice de vinho e mais alguns petiscos.

Voltei então ao local para a prova de vinhos da Herdade da Malhadinha Nova. Depois de penosamente atravessarmos o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço (mais de um quarto de hora para fazer estes troços, graças às excelentes políticas de expulsão dos automóveis da cidade de Lisboa promovidas pelo excelentíssimo presidente da câmara António Costa, cuja principal distracção parece ser infernizar a vida aos automobilistas que circulam pela capital), chegámos ao destino pelas 19h45, quase uma hora de atraso em relação ao previsto...

Após uma espera de copo vazio na mão, fruto das conversas que, junto à mesa, se sobrepunham às provas, começámos a função por um rosé Monte da Peceguina, com 14% de álcool, o que não foi propriamente um bom começo. Rosés com 14% servem para quê, para apanhar bebedeiras rosadas? Na nossa opinião um rosé deve ser antes de mais um vinho leve, a apelar ao aperitivo e a comidas leves de Verão. Para beber um vinho com 14% bebe-se tinto! Se há coisa que não compreendo é que haja produtores a fazer rosés anunciando que lhes querem dar um perfil de tinto… Por mim dispenso-os a todos. Concluindo, por 8,30 € não o levaria para casa. A bem dizer, não o levaria para casa, ponto.

Passámos aos brancos, um deles feito em inox (o Antão Vaz) e o outro com estágio em madeira (o Malhadinha). Este último estava quase morno porque não tinha sido posto a arrefecer com o devido tempo. Nenhum deles encantou, mas pior foi quando olhámos para os preços. De memória, penso que um custava 11 € e o outro 20!!! É certo que não eram maus, mas para darmos um tal valor por um vinho branco, tem de ser algo de muito bom. Assim como um Redoma...

Finalmente, 3 tintos: Pequeno João, Malhadinha e Menino António. Preços: 25 € (garrafa de 0,5 L), 33 € e 41 €!!! Um despautério!

Nenhum deles convenceu verdadeiramente e, tendo em conta os preços, ficámos com a sensação de que aquilo é mais para exportação, porque duvido que, por aqueles valores, os consigam vender em terras lusas. Nenhum deles justifica os preços referidos, nem de perto, nem de longe, principalmente tendo em conta os termos de comparação que existem por aí e que bem conhecemos. Dos que nos são mais caros (não em termos de custo mas de afeição), pensamos imediatamente em Quinta da Leda, Callabriga, Duas Quintas Reserva, Redoma e Batuta, Esporão Reserva e Private Selection, Hexagon, ou mesmo alguns Bairrada clássicos, como um Quinta das Bágeiras Garrafeira ou um Baga Encontro, e mesmo um mais moderno como o Quinta das Baceladas, que passaram pelos nossos copos há pouco tempo. Perante estes exemplos, como justificar os preços praticados nos vinhos desta prova?

É certo que estaremos na presença de vinhos de topo deste produtor, que está bem implantado a nível de enoturismo com o seu Country House & Spa, mas francamente!... Para justificar estes preços é preciso muito, muito mais... Basta lembrar-me do modo como, ainda recentemente na Wine O’Clock, numa prova com José Bento dos Santos, eu e o colega Mancha nos sentimos como que esmagados ao primeiro golo do Aurius 2002! E este custou-nos 33 € no dia da prova. Ora o Menino António custa 41 e nem serve para criado do outro...

Como comentei com os comparsas no final da prova, ainda bem que lá fomos para ficarmos a saber o que são aqueles vinhos... e o que não são.

Kroniketas, enófilo reaparecido

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