Coisas do Vinho e coisas do vinho: a propósito de Colares



Mais de 3 meses depois do último post, devido a afazeres diversos que não têm permitido alimentar este blog com a frequência desejável, voltamos com uma opinião dum artista convidado, neste caso o nosso mui estimado Politikos do blog Polis&etc e membro do núcleo duro dos Comensais Dionisíacos.

Aqui fica o relato.

Nas coisas do vinho, como em tudo, há o muito bom e o muito mau. Habituei-me, porém, a ver no sector da comercialização, divulgação e promoção do vinho cada vez mais profissionalismo e até mesmo alguma excelência. Daí já estranhar a ausência de qualidade quando a vejo.

A revista Time Out, da semana de 21 a 27 de Outubro, apresentou um dossier temático sobre o vinho. Numa reportagem sobre o vinho de Colares, intitulada O mistério do vinho de Sintra, assinada por João Cepeda, com fotografias de Ana Luzia, discorreu-se sobre o vinho de Colares, entrevistando-se, entre outros, Vicente Paulo, o presidente da Adega Regional de Colares. A dado passo, diz Vicente Paulo: «a maior parte das pessoas não sabe mas pode visitar-nos». E, acrescenta a revista, «regras: marcar com um dia de antecedência e reunir um grupo com 15 pessoas no máximo. Custa cinco euros por pessoa». Perante isto, propus aos membros do núcleo duro dos Comensais Dionisíacos uma visita à Adega de Colares e prontifiquei-me a fazer os contactos e a acertar datas.

Começa aqui o calvário. Atiro-me ao Google e consigo sem dificuldade de maior o contacto telefónico da Adega Regional de Colares. Do outro lado, atende-me uma funcionária remansosa mas com um mínimo de diligência e simpatia. Explica-me que não há visitas guiadas, nem provas, mas que se lá formos podemos percorrer a Adega por nossa conta e visitar a loja. Digo-lhe que o que pretendíamos era uma visita com algum enquadramento, obter algumas explicações, visitar a Adega, a vinha, e fazer uma prova. Diz-me que são apenas dois funcionários e que isso não é possível mas que há uma empresa, a Coisas do Vinho, que organiza visitas, mas que não sabe mais pormenores. E dá-me o contacto da dita Coisas.

Ligo, então, para as Coisas do Vinho. Do outro lado, uma empregada cuja atitude eu qualificaria como sobranceira e algo snobe. Não foi malcriada, nem incorrecta, mas eu não queria a trabalhar comigo, nem a poria em nenhuma função de atendimento público que coordenasse. Falta-lhe em atitude, simpatia e acolhimento, o que lhe sobra em sobranceria, antipatia e rigidez. É daquelas pessoas que consegue inverter os termos da relação. Ou seja, em que o cliente se transforma em empregado e vice-versa. Diz-me a dita que sim, que organizam visitas mas que o mínimo são 15 pessoas. Disse-lhe que éramos 4, repetiu que o mínimo eram 15. Não me deu nenhuma explicação sobre as visitas e/ou sobre as provas. Falei-lhe na reportagem da Time Out. Disse que não conhecia. Falei-lhe no nome de Vicente Paulo, retorquiu-me que era o Eng.º Vicente Paulo, presidente da Adega. Fiquei a achar que aquele Eng.º soava a remoque. Se calhar, ela acha que a profissão e/ou a formação fazem parte do nome! Por último, mandou-me telefonar para a Adega quando expressamente lhe havia dito que já o tinha feito. Por insistência minha, mandou-me a tabela de provas de 2009, que recebi no mail.

Em resumo:

1.º A Adega Regional de Colares publicita, através de uma revista, visitas a €5, com 15 pessoas no máximo, quando o que parece haver são provas de €6 a €25 – sem IVA – com 15 pessoas no mínimo – o máximo deve ser o infinito!;

2.º A Adega Regional de Colares concessionou as provas – visitas não sei se há e a tabela não esclarece – à empresa Coisas do Vinho, mas nenhuma delas parece saber minimamente o que faz a outra, nem haver nenhum tipo de interligação entre elas; ao visitante/cliente é-lhe indiferente que seja a Adega ou as Coisas do Vinho a organizar as visitas/provas, quer é ligar para um número e obter a informação;

3.º A Adega Regional de Colares, com uma empregada que me parece de linha, ainda procurou responder com alguma diligência às minhas perguntas e acomodar a situação: disse-me que podia visitar a Adega e comprar vinho na loja; a Coisas do Vinho, com uma empregada aparentemente mais profissionalizada, funciona em código binário, 0 ou 1, ou há 15 pessoas ou não há prova; será que à Coisas do Vinho não ocorreu ficar com o meu contacto e quando reunisse mais 11 interessados, contactar-me?! Quantos não terão interesse em fazer esta prova e não farão por causa desta limitação?

Enfim, há, como se vê, ainda bastante caminho a percorrer nas coisas do vinho e mais ainda nas Coisas do Vinho… Bem pode quem planta, trata, colhe e fabrica o vinho de Colares fazer tudo bem... mas falhando esta última linha, falha tudo… O vinho de Colares pode ser excelente, diferente, singular e único, mas com esta promoção não vai longe...

Ficará para uma próxima, se calhar nunca, uma visita/prova às vinhas e aos vinhos produzidos em chão de areia de Colares…

Politikos, enófilo mais-que-amador, no caso chateado com Colares

Comentários